Cumprindo o que havia prometido em sua reunião anterior, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) elevou mais uma vez a taxa Selic em meio ponto porcentual, como havia feito em junho. Com isso, a taxa básica de juros passou para 13,75% ao ano, o maior patamar desde o fim de 2016, quando o país mal começava a encontrar o caminho de saída da “herança maldita” lulopetista, que legou ao Brasil a maior recessão de sua história. Mas há diferenças entre aquele fim de 2016 e este meio de 2022: naquele ano o PIB recuou mais de 3%, enquanto hoje o país está crescendo, com previsões revisadas para cima; por outro lado, a inflação de 2016 já estava recuando, depois da explosão de 2015, enquanto hoje ela ainda segue acima dos 10% no acumulado de 12 meses, justificando a nova elevação nos juros.
Em seu comunicado, o Copom afirma ter levado em consideração as importantes mudanças na tributação de itens como energia elétrica e combustíveis, que puxaram os preços para baixo de forma abrupta a ponto de estar prevista uma deflação no mês de julho – o IBGE deve divulgar os números do IPCA no próximo dia 9. Apesar dessas reduções, o comitê listou fatores de pressão inflacionária que considera suficientemente fortes para que o aperto monetário ainda seja necessário: “uma maior persistência das pressões inflacionárias globais” e “a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e estímulos fiscais adicionais que impliquem sustentação da demanda agregada, parcialmente incorporados nas expectativas de inflação e nos preços de ativos”. Ou seja, um elemento sobre o qual o país não tem controle algum, e outro em que as ações dos poderes Executivo e Legislativo podem tanto ajudar a puxar a inflação para baixo quanto colocar a perder o que foi conseguido com as reduções de preços de energia e combustíveis.
O caminho do gasto público indiscriminado já foi testado e se mostrou desastroso; por sua vez, o caminho das reformas e do ajuste foi exatamente o que tornou possível ao país ter os juros mais baixos deste século
Uma observação do comunicado merece atenção: “a possibilidade de que medidas fiscais de estímulo à demanda se tornem permanentes acentua os riscos de alta para o cenário inflacionário”, afirma o Copom. Isso significa que o vencedor da eleição presidencial de outubro precisará cuidar para não se juntar ao argentino Alberto Fernández, que virou piada nas mídias sociais ao afirmar que “cada vez que ponemos dinero, los precios siguen subiendo”, demonstrando surpresa com o que, no fim, é a essência da inflação. Sem a retomada firme do ajuste fiscal, do respeito ao teto de gastos e de reformas que reduzam e melhorem o gasto público, medidas como a manutenção do valor de R$ 600 para o Auxílio Brasil, por exemplo, mesmo que consideradas importantes do ponto de vista social, elevarão a pressão inflacionária.
O texto divulgado ao fim da reunião termina informando que “o Comitê avaliará a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, em sua próxima reunião”, apontando para uma nova elevação, mas de 0,25 ponto, ou de manutenção dos atuais 13,75% na reunião da segunda quinzena de setembro. Por enquanto, boa parte dos analistas do mercado financeiro acredita que o ciclo de aperto chegou ao fim e que a Selic deve se manter estável até meados de 2023, quando começaria a cair. Mesmo assim, o comunicado deixa a entender que os tempos de juros básicos de 2% ao ano estão definitivamente no passado, já que, no cenário de referência traçado pelo Copom, a Selic terminaria 2023 em 11% e fecharia 2024 em 8%.
Com juros mais elevados, o que deve frear os investimentos e o crescimento econômico, assumem ainda mais importância as plataformas econômicas dos candidatos à Presidência da República e como eles pretendem conter a inflação e dar condições para que a economia possa crescer. O caminho do gasto público indiscriminado e do incentivo forte ao consumo e não à poupança, sem a menor preocupação com a saúde fiscal (ou, pior ainda, com truques orçamentários e contábeis para esconder o quadro real), já foi testado e se mostrou desastroso; por sua vez, o caminho das reformas e do ajuste foi exatamente o que tornou possível ao país ter os juros mais baixos deste século, mas foi abandonado no pós-pandemia. A escolha é óbvia; resta saber se teremos candidatos e eleitores suficientemente convencidos disso.
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