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Editorial

O atraso latino-americano

Vista geral do bairro Petare, em Caracas, a maior favela venezuelana. (Foto: Rayner Peña R./EFE)

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Há países ricos em recursos naturais, porém pobres em termos econômicos, com baixo padrão de bem-estar social, elevadas carências sociais e expressiva parcela da população vivendo em condições e pobreza. Com raras exceções e algum grau de variação, essa é a situação dos 20 países que compõem a América Latina, alguns dos quais são ricos em recursos naturais, mas ainda assim não conseguiram conquistar o desenvolvimento econômico e social. Nesse grupo estão, por exemplo, Brasil, Argentina e Venezuela, esta última detendo em seu território a maior reserva de petróleo do mundo.

Desses três países, o caso da Argentina é emblemático. A nação já esteve entre as mais desenvolvidas do mundo, foi uma das primeiras a eliminar o analfabetismo, chegou a ter renda por habitante igual à de Estados Unidos e Canadá nas décadas de 1940 e 1950 e, após o fim da Segunda Guerra Mundial, estimava-se que seria um dos países mais ricos do mundo na virada do milênio, considerando o critério padrão médio de bem-estar social. Entretanto, a Argentina não seguiu se desenvolvendo e conseguiu a proeza de empobrecer sistematicamente ano após ano, a ponto de estar atualmente aprofundando sua caminhada rumo ao subdesenvolvimento e à condição de país pobre e atrasado.

O Brasil também é um caso peculiar, porém com trajetória diferente da Argentina. O país sempre foi abastado de recursos naturais, mas nunca atingiu elevado desenvolvimento e caminha como um bêbado, cambaleando à direita e à esquerda; em alguns momentos cresce e parece que vai se desenvolver para, na sequência, recuar e reafirmar seu atraso. Assim, com uma população imensa (214 milhões no fim do ano passado, segundo o IBGE), o Brasil não consegue encontrar o caminho do crescimento estável e é contaminado o tempo todo por instabilidade, dúvidas e incertezas na economia e na política.

Praticamente não há exemplos de países que conseguiram crescer e se desenvolver com regimes políticos totalitários ou altamente intervencionistas

A Venezuela é outro país latino-americano que, apesar de navegar na maior reserva de petróleo do mundo, nem sequer conseguiu copiar pelo menos alguns aspectos de países que, por causa do petróleo, enriqueceram rapidamente e alcançaram elevado padrão de vida e desenvolvimento. Um exemplo é a Noruega, país que soube aproveitar as riquezas petrolíferas para se tornar uma das nações mais ricas do mundo, com um padrão médio de bem-estar alcançado por menos de 10% dos países. O caso da Venezuela é um dos maiores desperdícios de oportunidade e condições para enriquecer e um trágico exemplo de nação que, embora rica em recursos, mantém seu povo em elevada pobreza e sofrimento social grave.

O petróleo tornou-se um recurso altamente favorável para o enriquecimento dos países que o produziam – principalmente a partir de 1973, quando a chamada “crise do petróleo” elevou o preço internacional do barril de US$ 3, em média, para US$ 14, com repique em 1979, quando o preço saltou para US$ 28. Naqueles dois momentos, parecia que nenhum país rico em petróleo perderia a oportunidade para fazer uma revolução econômica, construir grande e moderna infraestrutura física e revolucionar a qualidade da educação, como bases para conseguir o desenvolvimento e nele permanecer.

Na América Latina, além da Venezuela, também Brasil, México, Colômbia, Argentina e Equador são países atualmente expressivos na extração de petróleo considerando o tamanho da população. Porém, nem a Venezuela nem os demais deixaram de ser atrasados e subdesenvolvidos por força da riqueza em reservas de petróleo, sendo a Venezuela um caso especial, por ter a maior reserva petrolíefera do mundo. Hugo Chávez inventou o tal “socialismo do século 21”, faleceu e foi substituído por uma espécie de clone seu; o país despencou e está se tornando uma das nações mais miseráveis do mundo.

Argentina e Brasil têm abundância em vários outros recursos naturais além do petróleo, a começar por terras férteis, água e minerais ferrosos e não ferrosos, mas cada um a seu modo não saiu do atraso, como mostra a parcela da população que vive em condições de pobreza ou miséria. Esses países têm em comum o fato de, mesmo beneficiados por essa ou aquele riqueza natural, não conseguirem sair do estado de atraso e pobreza, pelo menos para significativa parcela de sua população. A resposta deve iniciar por uma constatação: a história mundial demonstrou que praticamente não há exemplos de países que conseguiram crescer e se desenvolver com regimes políticos totalitários ou altamente intervencionistas baseados na opressão, na supressão das liberdades individuais, na estatização da atividade econômica, na ausência de garantia ao direito de propriedade e no isolamento econômico em relação ao resto do mundo.

Além dos aspectos acima, há outros inibidores do progresso, como a insegurança jurídica no ambiente de negócios, a política estatizante como cultura nacional, a existência de Constituição divisionista, a tributação extorsiva, o sistema estatal inchado, caro, ineficiente e corrupto, tudo isso sustentado por um caótico sistema político-eleitoral cuja essência é a instabilidade e a baixa confiança da sociedade nas instituições. Esses ingredientes, mesmo quando não descambam para instabilidade institucional grave, vivem em constante ameaça feita por governantes, partidos políticos e grupos radicais.

O Brasil é um país importante no cenário mundial, tem imensa extensão territorial e a maior floresta tropical do mundo, é o segundo maior exportador de alimentos (atrás apenas dos Estados Unidos), privilegiado em reservas de água doce, terras férteis e enorme reserva de recursos naturais, incluindo o petróleo, e tem tudo para se desenvolver, oferecer elevado padrão de vida para toda a sua população e sair dessa sina latino-americana de, mesmo com natureza rica, seguir atrasado e com elevado grau de pobreza entre a população. Porém, esse caminho depende de o país conseguir evitar maus governos e políticas erradas. As eleições indicarão o rumo que o país vai tomar.

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