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O Brasil chega ao fim de 2006 exibindo um retrato complexo: de um lado, a maioria dos governantes foi reconduzida – expressando apoio da maioria às políticas de base social adotadas; de outro, a sociedade manifesta insatisfação com o desempenho do país, medíocre ante o restante do mundo. A esperança é que o próximo ano permita aos brasileiros e seus líderes encontrarem soluções para o desenvolvimento sustentável num ambiente democrático.

Contudo, neste período, apesar dos problemas por que atravessamos, é hora de as pessoas se desejarem mutuamente votos de um ano melhor. As crises – desde turbulências políticas somente acalmadas com o término do ciclo eleitoral até o apagão aéreo que contaminou o humor da classe média – vão ficando para trás, cedendo espaço ao clima de renovação de esperanças, próprio da mudança do calendário.

Como escreveu a psicóloga Silvana Martani: "Para viver o ano-novo não nos livramos magicamente de nossas mazelas, mas podemos abrir um espaço para descansar e refletir". Na crise aérea, haverá tempo para investigar e remover as raízes do problema; as demais incertezas também podem ser dissipadas; e, num cenário próximo das pessoas, a insegurança que afeta as normas de boa vizinhança.

O retrato do Brasil sempre foi complexo – assinalou o crítico Wilson Martins –, por força da diversidade cultural e da descontinuidade territorial, que presidiu a nossa formação histórica. Antônio Paim acrescenta que até agora não entendemos o processo de representação política em uma sociedade extensa; como a recente e incorreta decisão da corte constitucional, ao bloquear a aglutinação de correntes partidárias chamadas a formar o poder.

A realidade é que o Brasil está em competição com o restante do mundo. Trata-se de um "benchmarking", comparação que abrange todos os competidores mundiais, desde os Tigres Asiáticos, passando pelos "países-baleia" emergentes, até os líderes desenvolvidos do conjunto ocidental. Neste ano, após um ciclo de três anos, a agropecuária inicia recuperação, mas a indústria padece de um gargalo cambial ampliado pela inexistência de políticas de desenvolvimento. A maioria dos setores fabris – dos tradicionais, como a madeira, até os dinâmicos, como o metalmecânico – enfrentou dificuldades.

Essa desaceleração industrial expressa na "doença holandesa" – desindustrialização precoce que afeta a base produtiva manufatureira – é simbolizada, no Paraná, pelo complexo de produção de motores Tritec, instalado em Campo Largo, região metropolitana de Curitiba. A fábrica, operando em 50% de sua capacidade de 400 mil motores por ano, já recebeu ofertas de venda para ser desmontada e reinstalada na China ou Rússia – onde iria integrar a base exportadora industrial.

É que aqueles países emergentes aprenderam a dominar a inserção no mundo globalizado e, ao lado da Índia, crescem a taxas de 7% a 10%; distanciando-se cada vez mais do Brasil. Esperamos que as reflexões sobre o ano em mudança nos ajudem a encontrar soluções para um futuro melhor.

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