O economista Roberto Campos Neto, o escolhido de Jair Bolsonaro para presidir o Banco Central no lugar de Ilan Goldfajn, passou tranquilamente pelo processo de aprovação de seu nome no Senado. Dos 27 membros da Comissão de Assuntos Econômicos da casa (com exceção do presidente), 26 votaram pela aprovação de Campos Neto, e nenhum se opôs. No plenário, em votação secreta, de acordo com o regimento da casa, foram 55 votos favoráveis, seis contrários e uma abstenção. A julgar pelo que o economista afirmou antes e durante a sabatina, o Banco Central continua em boas mãos.
Durante a transição, no fim do ano passado, circulou a informação de que Goldfajn era visto com bons olhos por Bolsonaro e por Paulo Guedes, ministro da Economia. Ele poderia muito bem ter permanecido no cargo se assim o desejasse, mas preferiu sair alegando questões pessoais, enquanto elogiava o programa econômico do governo eleito. Goldfajn deixa o Banco Central com um balanço extremamente positivo. Assumiu o BC em junho de 2016, ainda durante a interinidade de Michel Temer, com uma economia em frangalhos: inflação e taxa Selic de dois dígitos, e entrega a Campos Neto a menor taxa Selic da série histórica, em 6,5%, e a inflação sob controle, a ponto de em 2017 o IPCA ter ficado abaixo dos 3% que constituem o piso da meta.
A volta do crescimento só virá se o Brasil finalmente colocar as contas públicas em ordem
Ainda que se possa alegar que a inflação baixa tenha se devido, em parte, à queda forte na demanda – resultado da crise econômica deixada pelo PT, que adotou uma política irresponsavelmente expansionista –, não se pode desmerecer o trabalho do BC sob Goldfajn, cujas políticas permitiram o controle da inflação e a queda gradual dos juros de forma consistente, sem os voluntarismos que marcaram o período anterior de reduções na Selic, entre 2011 e 2012, e que tiveram de ser quase que imediatamente revertidas, de 2013 a 2015, já com a crise mostrando sua pior face.
Também é verdade que a inflação e os juros baixos ainda não reverteram em um crescimento sustentável do país e da recuperação dos níveis de emprego, mas na sabatina Campos Neto lembrou que a estabilidade dos preços é condição indispensável para que o país volte a crescer. Ele disse que “nos países onde se sacrificou a inflação por crescimento, a expansão da atividade durou pouco e depois houve recessão”, acrescentando que isso também ocorreu no Brasil – é justamente a descrição dos últimos anos do PT no poder. A volta do crescimento só virá se o Brasil finalmente colocar as contas públicas em ordem, gastando menos do que arrecada: uma tarefa que cabe mais ao Executivo e ao Legislativo que ao Banco Central propriamente dito; e a retomada do emprego se beneficia dos juros baixos, que permitem mais investimentos, mas também depende de reformas que desburocratizem a atividade empreendedora.
Além de se comprometer com a agenda econômica do governo e com a estabilidade do poder de compra do brasileiro, defendendo maior participação da iniciativa privada e a redução do Estado, Campos Neto citou alguns desafios que escolheu para sua gestão. Um deles é a concentração bancária, que diminui a concorrência e impede que os juros cobrados das pessoas físicas e jurídicas pelos bancos sejam menores. O novo presidente do BC lembrou o papel importante das fintechs e das novas tecnologias neste cenário, algo em que Goldfajn já vinha trabalhando com a Agenda BC+, voltada à simplificação de regras, estímulo à competitividade e à inovação tecnológica, e redução do custo do crédito. Se Campos Neto continuar na esteira de seu antecessor, e se governo e Congresso Nacional fizerem sua parte, o país tem uma chance de construir o que o novo presidente do BC descreveu como “uma cultura em que haja mais empreendedores e menos atravessadores”.