O Brasil entra 2010 como um país que conseguiu enfrentar com sucesso a crise financeira mundial e que conseguiu evitar o colapso no seu sistema financeiro. Ainda que o país tenha sofrido alguns efeitos da crise, na comparação com os Estados Unidos e com a Europa o país saiu-se muito bem e começa o ano em condições de ter bom desempenho econômico.

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A principal diferença entre o Brasil e os países onde a crise abalou o sistema bancário é que, aqui, não foi necessário despejar uma montanha de dinheiro público para salvar a onda de inadimplência de devedores de empréstimos e impedir a quebra de bancos. O núcleo da crise foi a sequência de quebras de instituições financeiras, desde bancos até seguradoras, cujo início foi a gigantesca maré de não pagamentos dos empréstimos de financiamentos imobiliários pelas famílias norte-americanas.

Há um ano e meio começaram os questionamentos sobre por que razões o sistema bancário brasileiro não foi abalado e não teve as perdas que se alastraram pelos Estados Unidos e pela Europa. Inicialmente, a vantagem do Brasil vinha de um suposto defeito, que é o fato de o sistema financeiro interno não ser integrado ao sistema financeiro mundial, razão pela qual os bancos daqui não tinham dinheiro aplicado nos bancos americanos e europeus. Trata-se de uma verdade, mas que explica apenas parcialmente a questão.

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Os bancos nacionais não aplicam recursos em bancos lá fora porque a taxa de juros no Brasil é historicamente superior às taxas pagas no mercado internacional. Portanto, é a taxa de juros elevada que determina a conduta dos bancos brasileiros. No dia em que ela estiver do tamanho da taxa de juros externa, os bancos daqui também correrão o mundo em busca de melhor remuneração para seus recursos... e aí eles irão integrar-se ao sistema financeiro mundial, ficando, por consequência, vulneráveis a crises internacionais.

Há, pelo menos, três outros aspectos que contribuíram para a capacidade do sistema financeiro brasileiro em enfrentar a crise. Primeiro, o Brasil já ha­­­via feito saneamento do seu sistema bancário, no governo de Fernando Henrique Cardoso, por meio de um programa de saneamento, o PROER, que resultou no fechamento de algumas instituições, entre elas o Banco Nacional e o Bamerindus. Se­­gundo, o fim da inflação, com a implantação do Pla­­no Real em 1994, obrigou os bancos a reformula­­rem suas estruturas e a aprenderem a conviver com uma economia sem inflação crônica, que era uma alimentadora de lucros bancários supernormais. Terceiro, por circunstâncias históricas, a crise pe­­gou o Brasil com alto volume de reservas internacionais, em valor maior do que a dívida externa.

É um fato histórico e único, já que o Brasil passou décadas dependendo de financiamento internacional e com elevada dívida externa, situação que colocava o país em dificuldades a cada vez que uma crise financeira externa surgia. Ainda que ca­­da governante goste de atrair para si as vitórias e de debitar às derrotas aos seus antecessores, o Bra­­sil começou a construir o quadro que lhe permitiu sair-se bem na crise ainda no governo Collor, quan­­do as privatizações e a abertura ao exterior criaram as condições para o florescimento de uma economia de mercado forte e competitiva. O fim da inflação que começou a se tornar realidade em julho de 1994 com o Plano Real, a continuação das privatizações no governo FHC e o abandono das teses econômicas radicais do PT pelo governo Lula responderam pela resistência da economia brasileira.

Uma ressalva que merece destaque é o fato de Lula não ter cedido às pressões do PT para implantar as propostas radicais de política econômica que sempre estiveram presentes nos programas de seu partido. Percebendo que pirotecnias e mágicas não funcionam em matéria de condução da economia, Lula seguiu o receituário do governo anterior, fez modificações em programas sociais e deixou a economia andar. Apesar dos imensos problemas que ainda vigem no interior do governo, como a confusão tributária e o baixo nível de investimentos em infraestrutura, o Brasil teve desempenho que lhe permitiu enfrentar com sucesso a crise mundial.

O Brasil deverá aumentar sua integração ao mercado externo e ao sistema financeiro internacional, menos por escolha e mais por imposição da realidade. Apesar das vantagens, em crises futuras talvez o país não consiga livrar-se de efeitos negativos de maior amplitude.

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