Depois de sete anos de quedas expressivas até 2002, que criaram déficits nas contas externas e lançaram o Brasil em grave crise, os preços das commodities brasileiras exportadas subiram de forma persistente durante os oito anos do governo Lula, puxados pelo crescimento da China e a consequente explosão de consumo naquele país. Após 2003, uma inundação de dólares ingressou ano a ano, permitindo ao Brasil obter expressivos superávits nas contas com o resto do mundo e acumular reservas internacionais que chegaram até os US$ 370 bilhões.

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Embora com a enorme contribuição do bom cenário internacional, Lula buscou capitalizar para si e seu governo todos os méritos dessa fase de expansão da economia brasileira. A presidente Dilma Rousseff não teve a mesma sorte de Lula, pois, além de os preços das exportações brasileiras não terem subido, o contrário ocorreu: a retração na China, ajudada pela crise nos Estados Unidos e na Europa, provocou quedas nos preços internacionais e a situação brasileira começou uma fase de reversão e perdas na balança comercial. O resultado foi o acúmulo de sucessivos déficits, que vêm criando constrangimentos financeiros bastante graves nas contas externas do país.

A presidente Dilma resolveu, então, culpar a crise internacional por todos os problemas da economia brasileira. Se quando a coisa vai bem o governo propaga que o mérito é só seu, seria lógico exigir que ele assuma a culpa quando as coisas vão mal. A realidade é que nem Lula detinha todos os méritos dos bons anos de seu governo – e seria honesto ele reconhecer que o cenário mundial lhe deu uma mão enorme –, nem Dilma está certa em jogar toda a culpa dos problemas brasileiros na crise internacional – portanto, também seria honesto ela reconhecer que seu governo cometeu muitos erros.

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Se quando a coisa vai bem o governo propaga que o mérito é só seu, seria lógico exigir que ele assuma a culpa quando as coisas vão mal

Se a crise mundial teve alguma dose de culpa pelos problemas que o Brasil vem enfrentando desde 2010, no atual momento não é possível seguir atribuindo à situação mundial a responsabilidade pelos problemas nacionais. O Brasil volta a cumprir sua sina de fabricar internamente suas próprias crises e adotar a atitude escapista de culpar o mundo. A economia dos Estados Unidos vem se recuperando há algum tempo; a Europa está bem melhor do que estava no auge de sua crise – embora ainda esteja longe de um panorama de expansão –, o Produto Interno Bruto (PIB) da China cresceu 7,4% no ano passado e deve repetir desempenho próximo disso em 2015, e a Índia deve crescer 7,5% em 2015 e 2016.

Se o mundo não vai ser um oásis de euforia, longe está de configurar uma crise internacional nos moldes daquela de 2008. O problema agora é interno e o escapismo de jogar a culpa no mundo não cabe mais. O FMI prevê que a América Latina terá crescimento medíocre neste ano, em torno de 0,9% – em parte como resultado do fim do boom dos preços das matérias-primas da última década e da queda da confiança nos países. A projeção do FMI para o Brasil é ainda mais grave. O órgão prevê queda de 1% em 2015 para o PIB brasileiro, situação agravada pelos erros de política econômica dos últimos anos, pela destruição moral e financeira da Petrobras e pela crise de governabilidade que se instalou em consequência da corrupção gigantesca que infeccionou o setor público.

A situação do Brasil é inédita à medida que junta várias doenças simultaneamente. Déficit público generalizado nos municípios, nos estados e na União, déficit nas contas externas, elevada dívida pública – e a consequente conta altíssima de juros a pagar –, falta de capacidade de investimento do governo, dificuldades políticas para a presidente Dilma, corrupção em larga escala, Operação Lava Jato e outras similares, interrupção de várias obras na Petrobras, inflação em alta, desemprego crescendo...

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A situação econômica apresentada não é crítica de nenhuma oposição política. São números e indicadores publicados pelo próprio governo e que representam a realidade dos fatos na economia brasileira. É hora de o governo parar de tentar enganar a população transferindo para o resto do mundo a culpa pelos problemas atuais e, se não conseguir êxito na tarefa de colocar o país de novo nos trilhos do crescimento econômico, pelo menos apresentar um plano consistente com o objetivo de estancar a onda de más notícias. Sem isso, a estagnação econômica poderá durar mais tempo, impondo sacrifícios desnecessários à população.