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Editorial

O Brasil e a estagnação global

Tubulações na estação de compressor de gás em Mallnow, Alemanha, 11 de julho de 2022. (Foto: EFE/EPA/Filip Singer)

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No dia 26 de agosto, a imprensa divulgou entrevista dada pelo presidente do Banco Mundial, David Malpass, na qual ele afirma que a economia global está diante de um cenário de estagflação (combinação de inflação com queda do produto bruto). Quando se olha o produto mundial dividido por nações, não se constata uma recessão clássica, expressada em queda absoluta do Produto Interno Bruto (PIB), mas sim uma estagnação, no sentido de crescimento abaixo das previsões que vinham sendo feitas desde o ano passado, quando a pandemia começou a arrefecer. Em julho passado, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu a previsão feita anteriormente sobre o aumento do produto global em 2022 e 2023, e destacou que os sinais indicam que o mundo pode estar entrando em recessão econômica.

Segundo as novas previsões do FMI, o crescimento da economia global ficará em torno de 3,2% neste ano, com viés de baixa. Já o presidente do Banco Mundial vem dizendo que a preocupação do órgão que ele dirige são os sinais de piora nos indicadores e nas tendências, com destaque para a deterioração da economia chinesa – em parte pelos lockdowns repetidos – e as dificuldades da Europa, sobretudo quanto ao abastecimento de gás natural, como decorrência da guerra entre Rússia e Ucrânia. O problema é que a Europa está tendo dificuldade em conseguir comprar gás natural, dada a limitação da oferta feita pelos produtores.

Apesar de também ter sofrido com a desorganização da economia, elevação da inflação e aumento da taxa de juros, o Brasil tem condições de retomar o crescimento econômico mais cedo que grande parte do mundo

Com a aproximação do inverno europeu neste fim de ano, o problema do desabastecimento de gás ganha contornos trágicos, porquanto o rigor do frio europeu exige compulsoriamente o abastecimento do gás destinado ao aquecimento artificial. Esse cenário vem exaltando o quadro geopolítico e as relações exteriores dos países, como por exemplo a condenação que vem sendo feita por setores sociais e analistas alemães quanto ao nível de dependência que a Alemanha passou a ter do fornecimento de gás pela Rússia. Especialistas neste tema vêm dizendo que a Alemanha exagerou na confiança quanto à estabilidade e paz nas relações comerciais com o leste europeu, especialmente com a Rússia.

A guerra expôs também as imensas dificuldades que a Ucrânia passou a ter no escoamento de suas exportações, com graves consequências para quem vende e para quem compra, em razão da importância da Ucrânia no comércio internacional. Dados recentes informam que as exportações ucranianas representam 10% do mercado mundial do trigo, 15% do mercado do milho, 13% do mercado da cevada e mais de 50% do óleo de girassol. A Ucrânia dispõe de território agricutável relativamente grande e suas terras são altamente férteis, comparáveis às terras roxas do Norte do Paraná. A combinação da pandemia e da guerra iniciada justamente quando a pandemia começava a arrefecer, com o acréscimo das sanções comerciais e financeiras, criou um ambiente político e econômico tenso, ajudou a agravar a inflação, lançou incerteza quanto à extensão e o prazo da crise, forçou a elevação dos juros internacionais, freou o ritmo da recuperação e, por isso, a previsão de estagflação se tornou comum.

Nesse cenário mundial, o Brasil passou a ser visto como um país que, apesar de também ter sofrido com a desorganização da economia, elevação da inflação e aumento da taxa de juros, tem condições de retomar o crescimento econômico mais cedo que grande parte do mundo. A inflação por aqui já começou a cair e as safras agrícolas se tornaram objeto de atenção global em razão das preocupações com o abastecimento de alimentos, de forma que o país, se não for o de melhor situação, está entre os mais bem aparelhados para crescer e contribuir com a normalização do abastecimento global em alimentos. A taxa de crescimento do PIB brasileiro pode não ser tão alta quanto desejável, mas deve ficar entre 2% e 3%, o que deixará o país fora da estagflação, principalmente se a inflação cair.

O Brasil está em condições de ter taxa de crescimento boa, embora modesta, retorno da inflação rumo a taxas de 5% ou menos, queda na taxa de juros e pavimentação do caminho para continuar melhorando os fundamentos macroeconômicos tão necessários para a redução do desemprego e melhoria dos indicadores de pobreza. No grande espetáculo do crescimento econômico, o principal figurino fica por conta dos investimentos em infraestrutura física e empresarial, e o grande ator é o empreendedor privado nacional e estrangeiro.

Assim, é importante que sociedade e governo trabalhem para criar um ambiente institucional favorável ao investimento, com segurança jurídica, redução da burocracia, facilidade na criação e fechamento de empresas, além da eternamente necessária reforma tributária que vá no rumo de um sistema tributário simples e moderado. Em poucas semanas, o país conhecerá os vencedores nas eleições estaduais e federais, especialmente quem será o presidente da República e os novos governadores, e espera-se que a tão propalada liberdade esteja presente na política econômica e nas regras de comércio exterior, pois o destino do Brasil é tornar-se cada vez mais importante no abastecimento mundial, enquanto deve acelerar a importação dos conhecimentos tecnológicos que o mundo já desenvolveu. Para isso, é preciso extirpar os “ismos” fatais: o populismo, o estatismo, o xenofobismo, o nacionalismo e, o pior deles, o socialismo.

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