A uma semana da eleição presidencial, especialistas convidados pelo ex-ministro Reis Veloso se reuniram num fórum nacional para debater o futuro do Brasil e as dificuldades que o país enfrenta para voltar ao crescimento. Com efeito, depois de expandir vigorosamente sua base econômica até fins do século passado, o Brasil perdeu ritmo e neste ano, por exemplo, seu PIB não deve avançar mais de 2,9% segundo projeção da Confederação Nacional da Indústria. A taxa é insuficiente para gerar "velocidade de escape" necessária ao desenvolvimento, alerta o sociólogo Hélio Jaguaribe.
Há 65 anos, o escritor suíço Stefan Zweig, aqui chegado em fuga do nazismo, escreveu um livro intitulado "Brasil, um país do futuro", em que alinhou fatores como a abundância de recursos naturais, tolerância religiosa e diversidade étnica, determinantes do salto para a grandeza futura. Embora as condições de saúde e educação tenham melhorado desde então com o país atravessando um processo de modernização que ampliou as fronteiras econômicas e firmou uma base industrial diversificada a profecia de Zweig não se efetivou.
Estudiosos associam a questão à ausência de um projeto nacional: no passado recente, as tentativas de crescimento esbarraram no descontrole inflacionário ou desequilíbrio das contas externas, resultando em pequenos vôos seguidos de estagnação. O debate volta ao palco com o programa de estabilização que derrubou a inflação média para menos de 3% ao ano, mas também abortou a atividade econômica a partir de uma taxa cambial desalinhada.
Outros fatores influenciaram o magro resultado do PIB: a desorganização do se-tor de agronegócio, afetado por dois ciclos de seca e pelo reflexo cambial, a pesada carga tributária que se aproxima de 40% do PIB e; sobretudo, um ambiente negativo para os negócios (invasão de propriedades, mudança de regras para agentes privados e cipoal burocrático).
A falta de um projeto nacional ainda leva a soluções erráticas: mesmo a relativa redução da pobreza anunciada semana passada foi obtida por redistribuição de renda via programas sociais, mas sem crescimento. Com isso, o governo não conseguiu atender a expectativas da classe média, que além de se distanciar politicamente dos líderes elevados ao poder em 2002 viu reduzida sua capacidade de compra em termos relativos. Não surpreende, portanto, que medidas recentes (desoneração setorial de impostos, pacotes para casa própria e para baixar o custo do dinheiro etc) não tenham surtido efeito.
Buscar o desenvolvimento em bases sustentáveis é um desafio em aberto, mas com experiências à mão. Os asiáticos, nos últimos 15 anos, cresceram 7,5% ao ano contra 2,8% da América Latina e dobraram sua participação na produção da riqueza mundial (enquanto o Brasil perdeu posição relativa), adotando políticas sensatas subordinadas a um projeto estratégico nacional explicam especialistas do Banco Mundial. O assunto interessa aos brasileiros, quando nos preparamos para a escolha de um novo governo.