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Editorial

O Brasil e suas décadas de (des)governos

Emendas parlamentares em 2020: quais deputados, senadores e partidos mais ganharam
O Congresso Nacional visto a partir do Palácio do Planalto. (Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado)

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As mais recentes informações das autoridades sanitárias federais e estaduais afirmam que toda a população acima de 18 anos (em torno de 170 milhões de brasileiros) estará vacinada no último trimestre do ano, o que daria condições de encerrar de vez as medidas restritivas e permitir o retorno de todas as atividades econômicas e sociais. Se isso acontecer, o Brasil estará diante de dois desafios principais: um, de curto prazo, é como aumentar rapidamente a produção nacional, elevar o nível de emprego e renda, estimular novos empreendimentos e, por consequência, aumentar o total de tributos recolhidos, contribuindo assim para reverter de um dos graves problemas nacionais, que é o desequilíbrio das contas públicas nas três esferas da Federação; outro, de longo prazo, é como atingir o objetivo de começar um processo sustentado de crescimento, eliminação da miséria e redução da pobreza.

Nenhum desses temas é novo, os diagnósticos são conhecidos, mas o desafio é enorme e difícil de ser vencido, principalmente se confrontado com as últimas seis décadas, tempo em que o país teve boas condições para vencer os obstáculos e sair do atraso, mas que, apesar da abundância de seus recursos naturais, não conseguiu fazê-lo. O Brasil decepcionou, pois mesmo tendo uma natureza generosa não conseguiu adentrar o novo milênio, em 2001, com uma renda média por habitante próxima das nações desenvolvidas, portanto, sem miséria e pobreza extrema. Mas o mau desempenho não parou por aí: o país adentra o ano de 2021 ainda com atraso e carências sociais – logo, já desperdiçou duas décadas do século 21.

2022 será um ano de eleições e o Brasil tem pressa de ser socorrido e salvo da mediocridade que, mesmo por razões diferentes, caracterizou vários governos dos últimos 60 anos

É difícil não ser repetitivo quando se trata de analisar a incapacidade do Brasil de superar esse histórico de desempenho fraco, principalmente não tendo conseguido atingir renda por habitante entre US$ 25 mil e US$ 30 mil/ano (hoje, ela é um terço desse valor) e ingressar no grupo dos países desenvolvidos. Para lembrar, o relógio diário do IBGE informa que a população brasileira atual é de 213 milhões de habitantes, dos quais 54 milhões são classificados como pobres e 14 milhões como miseráveis, o que caracteriza mais que um simples atraso: é uma crise humanitária que deveria indignar a todos, sobretudo os líderes políticos, empresariais e sociais. A história é farta em demonstrar que a existência de grande extensão territorial, terras férteis e recursos naturais abundantes não constitui em si uma condição suficiente para um país ter produto nacional por habitante no valor mínimo para ser considerado desenvolvido e oferecer a seu povo um elevado padrão relativo de bem-estar social.

Embora o objetivo de longo prazo esteja dado, não será possível pular da atual situação para a estrutura econômica e social requerida no longo prazo, caso o país não resolva adequadamente suas necessidades de curto prazo. A pandemia é um problema no caminho da nação, mas esse é um drama que atingiu o mundo inteiro, o que permite observar as duas centenas de nações afetadas pelo coronavírus, analisar o que elas fizeram, selecionar os melhores exemplos e aprender com eles. O Brasil já começou errando quando, com uma das maiores populações e um espaço territorial imenso, não administrou com a eficiência que se espera de um governo competente a aquisição de vacinas e a logística para atingir os 5.570 municípios. Poucos países do mundo têm a complexidade populacional e territorial do Brasil e, se já é difícil enfrentar uma pandemia em um país pequeno, mais difícil ainda é a tarefa de vencer a crise sanitária no Brasil.

Como o tempo perdido não se recupera, o estrago na economia já foi feito e a Covid-19 já causou meio milhão de mortes, das quais é extremamente difícil saber quantas exatamente teriam sido evitadas se a condução da pandemia fosse outra. Os escombros em forma de recessão, a debilitação das empresas, o desemprego, a perda de renda e o sofrimento humano precisam ser administrados com um mínimo de racionalidade e eficiência para que, após controlada a pandemia, o país consiga caminhar rumo aos objetivos citados acima.

A pergunta que certamente a maioria dos brasileiros está fazendo é se os líderes políticos nacionais e regionais terão humildade e competência para analisar as decisões que tomaram e as medidas que executaram, admitir seus erros e, a partir daí, entregar-se à tarefa de promover o crescimento do Brasil. Para o bem ou para o mal, 2022 será um ano de eleições e o Brasil tem pressa de ser socorrido e salvo da mediocridade que, mesmo por razões diferentes, caracterizou vários governos dos últimos 60 anos. Vários estudos têm sido publicados sobre o problema do atraso brasileiro e, em todos eles, dois fenômenos se destacam: a escassez de bons governos e o grande elenco de distorções impostas ao sistema estatal, que se tornou caro, ineficiente e corrupto em níveis muito além dos padrões mundiais.

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