Trump e Bolsonaro durante encontro em Osaka, no Japão, na cúpula do G20, em junho de 2019.| Foto: Alan Santos/Presidência da República

Na segunda-feira, dia 10, o governo norte-americano publicou norma retirando do Brasil e de outros 25 países o status de “país em desenvolvimento”, um reconhecimento que permite a essas nações alguma margem em práticas comerciais que seriam vedadas a países considerados desenvolvidos. O Brasil, aliás, está longe de ser a principal nação afetada pela medida norte-americana, que também tem efeitos na Organização Mundial do Comércio: o grande alvo era a China, com quem os EUA travam uma guerra comercial cheia de idas e vindas, mas Índia e Coreia do Sul também tiveram esse status revogado; entre as nações latino-americanas, Argentina, Colômbia e Costa Rica também foram atingidas pela norma do Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos.

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Apesar da interpretação inicial de que (mais uma vez) Donald Trump estaria passando uma rasteira em um subserviente Jair Bolsonaro, a realidade (mais uma vez) não corresponde à narrativa. Oficialmente, o motivo para a revisão é a participação do país no fluxo global de comércio e o fato de o Brasil estar no G20, mas a atualização do status brasileiro já tinha sido previamente acertada entre os dois presidentes ainda no primeiro semestre de 2019, e era condição para que os Estados Unidos apoiassem a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o chamado “clube dos países ricos”. O endosso norte-americano foi oficializado recentemente, inclusive passando o Brasil à frente de outros países que já haviam solicitado a adesão à OCDE antes mesmo dos brasileiros – aliás, os demais postulantes à entidade também tiveram seu status alterado. A pergunta que se coloca é: a troca valeria a pena?

Entre as vantagens antigas, das quais o Brasil já abria mão, e as vantagens futuras, que virão com o novo status e a entrada na OCDE, estas últimas são aquelas que o país tem de buscar

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Ser reconhecido como “país em desenvolvimento” no âmbito do comércio internacional permite, por exemplo, a aplicação de subsídios maiores, condições mais favoráveis na assinatura de acordos comerciais e acesso facilitado a crédito – vantagens que, de acordo com o analista político Carlo Barbieri, entrevistado pela Gazeta do Povo, o Brasil já nem vinha exercendo em suas negociações recentes. Um caso é o subsídio agrícola, em que o limite para nações emergentes é o dobro daquele permitido aos países desenvolvidos. A entrada na OCDE, por outro lado, traz uma série de vantagens, derivadas do acesso facilitado a novos mercados e investimentos, e à necessidade de adequação da legislação brasileira às normas da entidade. Para que o Brasil finalmente faça parte do grupo, terá de adotar uma série de medidas anticorrupção e tornar a economia mais livre e menos regulada, fortalecendo a iniciativa privada e a concorrência.

Não há dúvida de que, entre as vantagens antigas, das quais o Brasil já abria mão, e as vantagens futuras, que virão com o novo status e a entrada na OCDE, estas últimas são aquelas que o país tem de buscar. Se o momento atual deixa o Brasil em uma espécie de “limbo”, em que não é nem “país em desenvolvimento”, nem membro do clube de nações ricas, é preciso encontrar meios de encurtar esse hiato. Em janeiro, o então ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, havia dito que, dos 254 instrumentos legais exigidos pela OCDE para a adesão, o Brasil cumpria 81. Há um enorme trabalho de adequação ainda por fazer, e o governo espera concluir o processo de entrada na entidade até 2022 – há a possibilidade de isso acontecer ainda que nem todas as normas nacionais estejam adequadas ao padrão da OCDE, mas neste caso o país recebe um prazo para concluir as mudanças.

Elevar rapidamente essa conformidade entre a legislação brasileira e os parâmetros da OCDE é algo que se relaciona com as demais prioridades do governo, especialmente na área econômica. À medida que for tirando as amarras para os empreendedores, desmontando a burocracia e removendo a hiper-regulação, à medida que for realizando as reformas macroeconômicas, os requisitos internacionais estarão sendo cumpridos. O ponto fraco, por enquanto, está no combate à corrupção, pois projetos de lei aprovados e decisões judiciais recentes afastam o Brasil da direção desejada – um caminho que, apesar de todas as dificuldades, é possível reverter, desde que haja empenho redobrado da parte do governo, dos parlamentares comprometidos com a ética na política e da sociedade civil organizada.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]