A economia de um país pode ser analisada com base nos fundamentos macroeconômicos de curto prazo, pode ser olhada sob a perspectiva de longo prazo e quanto às possibilidades de melhoria do bem-estar social médio da população. Os especialistas internos e os analistas internacionais são unânimes em afirmar que o Brasil vive um momento muito ruim e apontam vários problemas de curto prazo. Objetivamente, os principais indicadores econômicos divulgados pelo próprio governo revelam um quadro bastante negativo, sobretudo pela existência simultânea de problemas que isoladamente já são um mal em si, mas quando ocorrem juntos agravam bastante a situação econômica nacional.
No longo prazo, o país tem chance, dependendo do que governo e sociedade fizerem com ele
Um exemplo é a existência ao mesmo tempo de Produto Interno Bruto (PIB) estagnado, desemprego em ascensão e inflação crescente. Em condições normais, queda do PIB e aumento do desemprego fazem a inflação retroceder – não aumentar, como está ocorrendo atualmente com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Por isso, a convivência desses três indicadores é esquisita para os analistas estrangeiros, cuja explicação pode ser identificada nas atitudes do governo. No cálculo do IPCA, entram os preços dos combustíveis, as tarifas de energia e de água e os preços das passagens de transporte coletivo. Todos são preços administrados pelo governo, e a aceleração da inflação tem ligação com o aumento desses preços, pois são bens e serviços com alto peso no orçamento das pessoas.
O governo Dilma Rousseff segurou os preços de energia, combustíveis e transportes nos últimos anos e, agora, vem liberando reajustes expressivos, medida que pressionou a inflação e elevou o IPCA mesmo em quadro de desemprego e queda de produção. A essa situação já bastante ruim devem ser adicionados a taxa de juros em alta e os déficits nas contas públicas nos municípios, nos estados e na União, piorando o conjunto de indicadores nacionais. O próprio governo percebeu a gravidade da economia e começou a enviar ao Congresso, após a reeleição de Dilma, um conjunto de medidas restritivas destinadas a corrigir algumas distorções.
Quanto ao curto prazo, não resta dúvida de que a economia nacional não vai bem e é tarefa do governo liderar um plano para consertar o que não está funcionando direito. Já o longo prazo é visto com expectativa diferente. Analistas do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) estimam que, se o Brasil fizer bons reparos nos danos de curto prazo, o país tem amplas condições de recomeçar a elevação da renda por habitante e buscar a meta de chegar a 2040 tendo vencido a pobreza. Em 2010, o IBGE concluiu o censo da década e os dados revelaram que o número de brasileiros classificados no grupo de “pobres” está na faixa dos 20%, ou seja, passa de 40 milhões de pessoas, e o total na faixa de “extremamente pobres” situa-se em torno de 7%, mais de 14 milhões de pessoas.
Alguns estudos davam conta de que a meta para 10 anos seria reduzir o número de pobres de 20% para 5% da população e o número de extremamente pobres de 7% para zero por cento do total de brasileiros. Hoje sabe-se que tais metas não serão atingidas no prazo previsto; talvez seja possível atingi-las em 2030, pois a segunda década deste século está praticamente perdida em termos de crescimento econômico. Os organismos internacionais veem com otimismo a possibilidade de o Brasil dobrar a renda per capita até 2040, superando os US$ 20 mil/ano necessários para vencer a pobreza, isso desde que o país não volte a sua eterna vocação de ter poucos anos de crescimento para, logo em seguida, colocar tudo a perder com políticas populistas, estatizantes e protecionistas, geralmente seguidas de inchaço da máquina pública e redução da eficiência do governo.
Há muitos desafios e os principais são a recuperação da precária infraestrutura, a melhoria da educação de base, o equilíbrio das contas públicas e o desenvolvimento da ciência e da tecnologia. O otimismo de longo prazo com o Brasil vem do fato de o país ser dotado de amplos recursos naturais, ter uma população com elevado espírito empreendedor, um sistema bancário sólido, bom nível de reservas internacionais dólar e estar disposto a atrair capitais privados nacionais e estrangeiros para os projetos de infraestrutura física. Portanto, no longo prazo, o país tem chance, dependendo do que governo e sociedade fizerem com ele.
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