O grande desafio das gerações futuras está em salvar o sistema político e o setor público de suas tragédias morais e gerenciais

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A prestigiada revista The Economist – uma das mais importantes publicações de economia do mundo, que influencia analistas e investidores internacionais – acaba de colocar o Brasil em sua reportagem de capa fazendo a pergunta "O Brasil estragou tudo?" Em reportagem de 14 páginas, a jornalista Helen Joyce remete o assunto a outra edição, de 2009, em cuja capa aparecia o Cristo Redentor saindo como se fora um foguete, sob a manchete "O Brasil decola".

Aquela reportagem era altamente favorável ao Brasil e mostrava um país diferente, agora em condições de prosseguir rumo ao crescimento econômico, ao desenvolvimento social e a uma maior importância no cenário econômico mundial. Na mais recente edição, a revista questiona os rumos do Brasil e insinua que o país, no governo Dilma, estaria jogando fora o futuro por ter colocado a perder o conjunto de conquistas feitas nos últimos 20 anos.

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A jornalista começa por dizer que "na década de 2000, o Brasil decolou e, mesmo com a crise econômica mundial, o país cresceu 7,5% em 2010. No entanto, tem parado recentemente. Desde 2011, o Brasil conseguiu apenas um crescimento anual de 2%. Seus cidadãos estão descontentes – em junho, eles foram às ruas para protestar contra o alto custo de vida, serviços públicos deficientes e a corrupção dos políticos". Na reportagem, a revista se mostra severa com a presidente Dilma Rousseff e atribui a ela uma série de erros e posturas prejudiciais ao crescimento do Brasil.

Entre as várias críticas feitas à presidente da República, destacam-se a incapacidade do governo em enfrentar problemas estruturais, o excesso de ativismo estatal, a exagerada interferência na economia, a má condução da política macroeconômica e a má estratégia em relação às concessões para investimentos na infraestrutura física. Segundo a revista, o que a presidente tem conseguido é assustar investidores estrangeiros, os quais não têm se interessado pelos projetos de infraestrutura.

Além disso, a economia estagnada, um Estado inchado e protestos em massa significam que a coisa não vai bem, e a revista pergunta se Dilma será capaz de mudar de rumo e reiniciar os motores do crescimento organizado e sustentável. Embora a revista reconheça que outros países emergentes também desaceleraram após a expansão que teve o ano de 2010 como o auge para o Brasil, ela afirma que o país não fez muito (quase nada, na verdade) para aproveitar os anos bons, reformar o governo e limpar suas mazelas, entre as quais estão os tributos disformes e exagerados.

A Economist destaca que, "apesar de ser um país jovem, o Brasil gasta tanto com aposentadorias quanto países do sul da Europa, onde a proporção de idosos é três vezes maior, enquanto investe menos da metade da média mundial em infraestrutura" e fala também dos pesados encargos sobre os salários, que são bem mais elevados que nos países com os quais o Brasil compete no mercado internacional.

A reportagem reconhece coisas boas existentes por aqui e demonstra algum otimismo com o futuro do país no longo prazo, como quando diz que "felizmente, o Brasil tem grandes vantagens. Graças a seus agricultores e empresários eficientes, o país é o terceiro maior exportador de alimentos do mundo". A Economist lembra também que o país deverá se tornar um grande exportador de petróleo até 2020 e faz referências elogiosas à pesquisa em biotecnologia, ciência genética e tecnologia de gás e petróleo em águas profundas.

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Para completar o conjunto de elogios, a revista lembra que, apesar dos protestos populares, o Brasil "não tem divisões sociais ou étnicas que mancham outras economias emergentes, como a Índia e a Turquia". Implicitamente, fica uma indagação: como um país com tantos recursos naturais e tão boas condições sociológicas consegue seguir errando e fracassando? Certamente, a péssima qualidade das instituições, o sistema político corrupto e o Estado mastodôntico e ineficiente estão na base dos fatores que mantêm o Brasil no atraso.

O grande desafio das gerações futuras está em salvar o sistema político e o setor público de suas tragédias morais e gerenciais, como condição necessária para que todas as demais reformas e mudanças possam catapultar o Brasil à condição de país economicamente desenvolvido e socialmente justo. É um grande desafio!