Poucas semanas depois de anunciar a conclusão do tão esperado acordo comercial com a União Europeia, o Mercosul fechou mais uma rodada de negociações, desta vez com um bloco menor de países europeus que não pertencem à UE: trata-se da Associação Europeia de Livre Comércio (Efta), formada por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein. Para se ter uma ideia da relevância do quarteto, seu PIB combinado é de R$ 1,1 trilhão, semelhante ao do México; em comércio de bens, o Efta é o nono maior bloco do mundo, e o quinto em comércio de serviços. O acordo, agora, tem de ser aprovado pelos líderes e parlamentos de todos os países envolvidos.
Um comunicado do Ministério da Economia, divulgado neste sábado, enumera algumas vantagens para o Brasil. Assim que o acordo entrar em vigor, as quatro nações europeias vão zerar tarifas sobre “a importação de 100% do universo industrial”. Além disso, os produtos agropecuários brasileiros terão acesso preferencial: “serão abertas novas oportunidades comerciais para carne bovina, carne de frango, milho, farelo de soja, melaço de cana, mel, café torrado, frutas e sucos de frutas”, diz o comunicado. Além disso, continua o ministério, “o acordo garantirá acesso mútuo em setores de serviços, tais como comunicação, construção, distribuição, turismo, transportes e serviços profissionais e financeiros”.
O Mercosul só tem conseguido fechar bons acordos porque os governos dos países-membros têm demonstrado compromisso com o livre comércio
O impacto do livre comércio entre Mercosul e Efta no PIB brasileiro, estima o Ministério da Economia, será de US$ 5,2 bilhões adicionais em um prazo de 15 anos, com o mesmo valor esperado em investimentos dos quatro países europeus no Brasil – a Suíça já é, hoje, o quinto maior investidor estrangeiro direto no país – e um aumento de US$ 12,6 bilhões no fluxo comercial brasileiro.
Que o Mercosul tenha conseguido fechar dois acordos com blocos europeus em tão pouco tempo só foi possível porque os governos dos países-membros têm demonstrado compromisso com o livre comércio. Essa orientação está seriamente ameaçada pelas perspectivas de vitória da chapa de Alberto Fernández e Cristina Kirchner nas eleições argentinas de outubro. A ex-presidente, que retorna às urnas na condição de vice da chapa de esquerda, levou o protecionismo ao extremo durante seu governo, infernizando a vida de exportadores e importadores. Fernández já afirmou que, se eleito, pretenderá revisar o acordo assinado com a UE.
Acordo este que, a julgar pela reunião do G7 ocorrida neste fim de semana, tem pouquíssimas chances de naufragar sob o pretexto da questão ambiental no Brasil. O presidente francês, Emmanuel Macron, que viu nas queimadas uma oportunidade para satisfazer o setor agrícola francês – altamente subsidiado e o principal adversário do acordo entre Mercosul e UE –, teve de ouvir críticas dos principais parceiros, a alemã Angela Merkel e o britânico Boris Johnson. Merkel foi bem clara ao dizer que, se a Europa quer ver o Brasil trabalhar com afinco na proteção à Amazônia, o melhor a fazer é aprovar o acordo, que prevê justamente esse tipo de compromisso por parte do governo brasileiro – assim como o acordo entre Mercosul e Efta, por sinal.
Quando assumiram o governo, o presidente Jair Bolsonaro e os ministros Paulo Guedes e Ernesto Araújo prometeram lutar pela maior inserção internacional do Brasil, ampliando o comércio exterior. Os acordos com União Europeia e Efta deixam o país em posição ímpar para negociar com praticamente todo o continente europeu, pois os únicos países que não estão em nenhum dos dois blocos são algumas nações dos Bálcãs, Andorra, Turquia e as ex-repúblicas soviéticas (com exceção de Estônia, Letônia e Lituânia, membros da UE). Que ambos os textos possam ser logo aprovados e entrar em vigor, com enormes benefícios para os brasileiros.
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