A crise internacional colocou o Brasil à prova em 2011 e a economia nacional se manteve inerte, porém não intacta. Foi necessária a expansão da renda de setores estratégicos, como a agropecuária, para que o país não ficasse no vermelho. Mas não será fácil superar as marcas do último ano em 2012, devido à redução nos preços das commodities agrícolas, ao clima mais seco e à lentidão na execução dos planos de investimento em infraestrutura.

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O país foi literalmente à lavoura para sustentar o superávit na balança comercial em 2011. Se não fossem os US$ 75 bilhões de saldo do agronegócio (número 19% maior que o de 2010), o índice nacional seria de US$ 47 bilhões de déficit. A agropecuária ampliou o cultivo e vai tentar superar novamente sua marca. Se as cotações internacionais mantiverem os índices atuais nos próximos meses – quando o país colhe as safras de milho e soja e realiza a maior parte das vendas – uma parte do caminho terá sido percorrida.

A renda será determinada também pela política econômica e pela política cambial do país. Explica-se: a crise econômica mundial tem reduzido os preços internacionais das commodities agrícolas em dólar. Como os produtores brasileiros recebem em real e a moeda está valorizada, esse impacto vem sendo amortecido na conversão da cambial. Por outro lado, sofre a indústria exportadora que forma seus custos e preços no mercado interno. Agricultores e pecuaristas torcem para que o quadro não mude de rumo e continue beneficiando o agronegócio.

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As previsões climáticas para a colheita de verão geram preocupação já no início de 2012. Além do risco de falta de chuva em janeiro para o Sul do país, incluindo parte de São Paulo e de Mato Grosso do Sul, os produtores temem excesso de umidade na hora em que estiverem retirando a soja e o milho do campo em Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais. A irregularidade das precipitações pode atingir também o Centro-Norte.

Diante da instabilidade do mercado e dos riscos climáticos, o agronegócio espera reconhecimento e apoio público. A promessa do governo federal é que a divulgação do Plano Agrícola e Pecuário (PAP) – que define as políticas setoriais e o volume de crédito – seja antecipada. O PAP tradicionalmente é publicado entre junho e agosto e estaria sendo preparado para chegar ao mercado com pelo menos três meses de antecedência.

A agropecuária comercial pede que o orçamento do PAP seja de R$ 179 bilhões para a temporada 2011/12 – R$ 72 bilhões a mais que o de 2011/12. Dificilmente a reivindicação será atendida, mas a expectativa é de nova elevação dos valores, repassados ao produtor a juro padrão de 6,75%. A agricultura familiar, além de reajuste no valor de R$ 16 bilhões ofertado no último ciclo, espera mudanças que facilitem o acesso às linhas de crédito.

A ampliação do crédito com juros controlados é considerada essencial para rebater o impacto da crise internacional no agronegócio. Tradicionalmente, os recursos do PAP atendem menos da metade da demanda interna por financiamentos de custeio e investimento do agronegócio. Boa parte dos recursos vem de instituições financeiras da Europa, que enfrentam crise e podem elevar juros ou limitar seus repasses.

Os programas de garantia de preços mínimos – que fazem parte do PAP – devem exigir menos recursos do que em anos anteriores, conforme avaliação da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A previsão é que os preços de mercado de produtos como o milho e o feijão permaneçam acima dos custos, dispensando intervenções. Por outro lado, o país tem a chance de fortalecer programas que garante preços equilibrados e a distribuição de alimentos da agricultura familiar, direcionados à merenda escolar ou a instituições sociais.

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O agronegócio disputa orçamento público também para obras de infraestrutura. O desafio do setor é se manter entre as prioridades em época de investimento em aeroportos e transporte urbano para a Copa do Mundo de 2014. O setor cobra a aceleração dos projetos ferroviários e portuários. O Porto de Paranaguá – o maior exportador de grãos do país – acumula projetos de R$ 2 milhões.

O Paraná possui metas locais para cumprir. Terá um ano de mudanças no controle sanitário e na prestação de serviços. A recém criada Agência de Defesa Agropecuária (Adapar) deve ser implantada a partir do primeiro semestre. Para seu funcionamento, porém, será necessária a realização de concurso público e a contratação de pelo menos 300 técnicos e veterinários.

A incorporação da Empresa Paranaense de Classificação de Produtos (Claspar) pela Companhia de Desenvolvimento Agropecuário do Paraná (Codapar) promete modernizar a prestação de serviços, da classificação de produtos vegetais à armazenagem e de grãos e a conservação das estradas rurais. Os clientes das duas empresas esperam, no entanto, não ter o custo de seus contratos elevados.

O Brasil que se apoiou no agronegócio em 2011 torce para que o setor se mantenha em crescimento no próximo ano. A estabilidade e o avanço contínuo que tranquilizam a economia são fruto de esforço coletivo e representam uma aposta acertada, na vocação nacional para produzir alimentos.