O recente encontro da cúpula presidencial do Mercosul na cidade argentina de Córdoba, com seu magro resultado em termos de integração comercial e seus excessos de política declaratória, confirma a vocação da América Latina para o baixo crescimento no mundo globalizado. Com esse ritmo modesto a região foi superada pela Ásia Oriental e perde posições também para a Europa de Leste, em fase de recuperação acelerada depois de sacudir o domínio comunista nos anos 90. Há perspectivas mais otimistas, mas para isso o Brasil em especial deve retomar sua ascensão histórica – como observou o historiador Timothy Garton Ash.

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Ao comentar a nova era multipolar que sucedeu ao primeiro momento pós-Guerra Fria o pensador britânico explica que, ao lado de outras potências emergentes, o Brasil poderá se destacar por seus recursos naturais, sua população e outros fatores. Para isso, ajunta o economista Anthony Elson, o Brasil e os latino-americanos precisam se concentrar no crescimento sustentável; porque no último meio século os países da Ásia Oriental deixaram a América Latina na poeira.

Após monitorar as economias de ambas regiões por muitos anos como responsável por departamentos técnicos do FMI, Elson mostra que os asiáticos do leste (exclusive Japão) mais que dobraram o PIB conjunto em relação aos países de nosso continente. Três problemas explicam o desempenho mais fraco dos latino-americanos: eles sofreram instabilidade, apresentaram baixo grau de integração com a economia global e exibem baixa qualidade das instituições públicas. Com isso, enquanto os asiáticos cresceram em média 6% ao ano no período, a América Latina estagnou; o Brasil conhece bem o fenômeno das "décadas perdidas" antes do controle da inflação e da introdução da lei de responsabilidade fiscal.

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O problema é que entre nós a abertura comercial, a taxa de investimento e a qualidade do ajuste fiscal (com aumento de gastos públicos e juros, a serem cobertos por maior carga tributária), por serem modestos, resultam num ritmo mais lento em relação aos asiáticos. Os líderes reunidos em Córdoba poderiam se alçar à condição de estadistas se, em vez dos queixumes habituais contra os ricos, tivessem se ocupado em observar outro competidor regional: a Europa de Leste. Ali, países como Polônia, Hungria, República Checa, etc, crescem vigorosamente, por estarem livres da sedução do estatismo e outras utopias da esquerda.

Ao contrário, nossos governantes continuam embalados por uma retórica terceiro-mundista que perdeu espaço até mesmo na África de líderes como Nelson Mandela. Estranhamente transformados em porta-vozes do Mercosul, Fidel Castro e Hugo Chavez só perderam o discurso quando questionados por jornalistas acostumados à modernidade contemporânea. O que traz à tona a necessidade de a América Latina aprender, como o mundo que deu certo, a dar importância a valores como desempenho, democracia e compromisso com as instituições, como pano de fundo para o desenvolvimento.