Como ocorre todos os anos, o balanço de acidentes nas rodovias federais no feriadão de Natal veio recheado de números trágicos, como quase uma centena de mortes e cerca de 1.500 feridos. Em 2006, o problema se agravou, em razão do aumento da demanda por viagens por rodovia em decorrência do caos que impera na aviação brasileira. Não há dúvida, porém, de que a maior parte dos acidentes foi provocada pelo excesso de velocidade, pelo álcool e pela imprudência dos motoristas – fenômenos típicos desta época do ano. Mas é resultado também – ou principalmente – das péssimas condições de trafegabilidade das estradas, deixadas há décadas ao deus-dará pela falta de investimentos adequados em restauração e conservação.

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Levantamento feito nas contas do governo Lula indica que, desde 2003, foram gastos R$ 4,9 bilhões nas rodovias federais, um respeitável volume de recursos quando comparado com os investimentos realizados pelo governo anterior. Entretanto, segundo o Tribunal de Contas da União, foi um dinheiro muito mal gasto, porque 69% dos trechos federais continuam em situação ruim ou regular. E a culpa, segundo constata o TCU, é da falta de planejamento, do superfaturamento, da fiscalização precária e da impunidade que protege os autores de desvios.

Um dos exemplos mais citados para demonstrar a malversação do dinheiro público na área rodoviária foi a operação tapa-buracos realizada no início do ano. Foram gastos R$ 500 milhões para deixar transitáveis cerca de 27 mil quilômetros de estradas federais, mas em menos de um ano grande parte do asfalto "recuperado" voltou a apresentar os mesmos problemas. O dinheiro do contribuinte, nesse caso, foi desperdiçado com o uso de material e serviços de baixa qualidade e com o superfaturamento, conforme apontam pormenorizados relatórios do Tribunal de Contas.

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Dos 54 mil quilômetros de estradas pavimentadas sob a responsabilidade da União, apenas cerca de 30% apresentam hoje boas condições de tráfego. Nos demais 70%, o que mais se vê são buracos, crateras, rachaduras, ondulações, pontes destruídas, sinalização inexistente ou insuficiente e acostamentos precários. É claro, portanto, que de uma situação assim descrita só pode redundar na multiplicação do número de acidentes, com todas as suas conseqüências, das quais a mais grave é a perda de vidas.

Se essa situação grave, que se evidencia fortemente em períodos de grande afluxo de veículos nas estradas brasileiras, como nos "feriadões" e nas temporadas de férias, em razão da grande cobertura que a mídia lhe dedica, ela não é menos grave no restante do ano. Além de vidas e de perdas materiais provocadas pelos acidentes, acumulam-se prejuízos econômicos incalculáveis, já que 80% da produção nacional depende do transporte em modal rodoviário.

Desgaste excessivo dos caminhões, diminuição de sua vida útil, aumento no tempo das viagens, maior consumo de combustível, necessidade mais freqüente de pneus e outras peças de reposição – tudo isso é fator de encarecimento dos fretes, além de ser um dos mais importantes entraves infra-estruturais a impedir o crescimento do país.

O presidente Lula deve lançar nos próximos dias um conjunto de medidas visando, para usar sua própria expressão, a destravar a economia. Espera-se que a recuperação das rodovias faça parte desse pacote, seja com a destinação de recursos, seja com estímulos à participação privada nesse esforço.