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Quando o Plano Real foi implantado, em julho de 1994, a inflação já vinha atormentando o país desde 1963 e, mesmo tendo sido combatida em alguns anos por planos econômicos naquele período de 30 anos, ela sempre reaparecia, sendo uma das causas do empobrecimento de parte da população e do sofrimento imposto às camadas mais pobres. O Plano Real teve sucesso até o início de 1999, quando a economia sofreu outro forte teste diante do fracasso da política de tabelamento da taxa de câmbio pelo Banco Central.
Percebendo que o tabelamento da taxa de câmbio caminhava para ser desmoralizado, o governo recuou e deixou o preço do dólar flutuar segundo as leis de mercado. Com isso, a taxa de câmbio saltou de R$ 1,20 no dia 3 de janeiro de 1999 para R$ 2,16 no dia 4 de março de 1999; no entanto, a flexibilização da política de tabelamento funcionou, e o dólar voltou para a faixa de R$ 1,60, em torno da qual permaneceu até a aprovação de nova política macroeconômica em julho de 1999.
O conhecimento da história do mercado cambial e das oscilações de preços da moeda estrangeira é importante para a compreensão da situação instável de hoje, com a forte desvalorização do dólar, e deveria ajudar na formulação da política cambial e da política de juros para 2025
A nova política implantada no início do segundo semestre de 1999 fixou o chamado “tripé macroeconômico”: metas de inflação, superávit primário e câmbio flutuante. Naquele momento, havia terminado o primeiro semestre do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso e o presidente percebeu que, se não desse apoio firme à nova política, sua maior obra – o Plano Real – poderia ruir e pôr a perder a vitória contra a inflação. A nova matriz baseada no tripé macroeconômico funcionou bem nos primeiros anos, e as razões incluíram a crença de que o governo manteria a estrutura planejada e a credibilidade pessoal do presidente da República e do ministro da Fazenda, Pedro Malan, que ocupou o posto de janeiro de 1995 a janeiro de 2003.
Os resultados em termos de vitória contra a hiperinflação e obtenção de algum crescimento econômico com melhor distribuição de renda contribuíram para o bom momento que se seguiu, após o país ter sofrido anos de inflação renitente. Ao assumir a Presidência da República em 2003, em seu primeiro mandato, Lula nomeou Antonio Palocci como ministro da Fazenda. Os preços das commodities exportadas iniciaram um ciclo de alta; felizmente, Lula não fez o que rezava a cartilha da CUT e do PT; a equipe econômica sob liderança de Palocci não cometeu loucuras nem agrediu as leis da economia; e o país teve um bom período.
Acredita-se que o escândalo representado pela descoberta do mensalão só não fez um estrago maior no petismo, permitindo a Lula reeleger-se em 2006, devido ao bom momento que a economia brasileira atravessava. O cenário favorável prosseguiu por mais dois anos, até a explosão da crise imobiliária norte-americana de 2007/2008, que se disseminou pelo mundo e deixou expostas algumas sérias vulnerabilidades da economia brasileira. Outro fator que reduziu o impacto da crise internacional sobre o Brasil foi o bom desempenho da economia global e os aumentos dos preços das commodities, que ajudaram o Brasil a acumular US$ 350 bilhões em reservas cambiais, fazendo que as contas externas do país ficassem em situação confortável.
O conhecimento da história do mercado de câmbio e das oscilações de preços da moeda estrangeira é importante para a compreensão da situação instável de hoje, com a forte desvalorização do dólar, e deveria ajudar na formulação da política cambial e da política de juros para 2025. O mercado de dólar e de outras moedas estrangeiras é complexo, mas há um consenso mundial: nenhuma política cambial funciona bem se as contas consolidadas do setor público permanecerem deficitárias todos os anos, como vem ocorrendo no Brasil. Entende-se por “contas consolidadas” os resultados financeiros da União, estados, municípios, empresas estatais e sistema público de previdência social.
A instabilidade refletida nas altas desvalorizações cambiais, que ajudam a pôr fogo na inflação em razão dos aumentos de custos em reais dos bens e serviços importados pelo Brasil, abrem espaço para três consequências negativas: a primeira é pressionar o Banco Central para seguir elevando as taxas de juros; a segunda é aumentar o valor em reais das dívidas empresariais contratadas em dólar; a terceira é, por tudo isso, agir com um freio ao crescimento econômico nos próximos anos.
Se um cenário como esse se torna real e permanece por longo período, o país não escapa dos clássicos efeitos colaterais de aumentar o desemprego, reduzir os salários médios dos trabalhadores, manter a economia nacional atrasada e empobrecer ainda mais a população. Caso, além disso, sobrevenha agravamento dos problemas internacionais – como guerras, crises migratórias, conflitos políticos e recessões –, está formado o quadro para o que os economistas chamam “tempestade perfeita”. O Brasil tem o desafio de enfrentar as crises e os problemas que são afetos à sociedade brasileira e ao governo local.