Neste início de março fará um ano que o Litoral paranaense foi abalado por uma das maiores tragédias naturais de sua história. Chuvas intensas provocaram deslizamentos, inundações, queda de barreiras, destruição de pontes e estradas, centenas de moradores perderam suas casas, lavouras de subsistência se perderam um drama que afetou a vida de milhares de famílias que, até hoje, não conseguiram sequer retornar à vida simples que tinham antes.
À época, a repercussão do desastre ambiental foi enorme, obrigando os governos estadual e federal a anunciar e prometer medidas urgentes para recuperar os danos, sobretudo para minorar as perdas e o sofrimento da população atingida. Passado, no entanto, já quase um ano dos acontecimentos, nem todas as palavras solenes se transformaram em fatos concretos. E nem há, perspectiva segura de que os problemas que persistem sejam resolvidos em prazo razoável.
Desde a tragédia de março de 2011, pouco foi feito para melhorar a situação das famílias atingidas. A culpa pela demora passou a ser ora dos prefeitos, que não providenciaram o que lhes correspondia, ora de indefinidas dificuldades burocráticas, ora porque os projetos de recuperação só puderam ser concluídos em novembro de 2011, oito meses depois do desastre. O fato é que, passado o tempo e vencidos todos os prazos legais, perderam-se recursos que poderiam ser liberados com urgência; demoradas licitações poderiam ser dispensadas, outras, necessárias, ainda não foram realizadas; e por isso muitas obras (como as de moradia, por exemplo) estão atrasadas ou nem sequer foram iniciadas.
Tivesse havido efetivo enfrentamento da situação de calamidade no prazo de 180 dias o que não é pouco, são seis meses e a situação, ao menos a questão prática da liberação de recursos, estaria muito melhor. Os recursos disponíveis são insuficientes: seriam necessários R$ 89 milhões para as obras, mas a União concordou em repassar apenas R$ 25 milhões, divididos em duas etapas. O governo estadual destinou R$ 20,5 milhões e ainda não está definido como será feito o restante das obras.
O cenário na região atingida ainda é de destruição. Famílias em abrigos improvisados, entulhos espalhados por vários quilômetros e pontes quebradas continuam fazendo parte da paisagem. Foi isso que presenciou a reportagem da Gazeta do Povo, em situação mostrada por duas matérias publicadas no início desta semana.
O cenário de hoje revela que pouco se aprendeu com essa tragédia. Se ela mostrou que o Estado não estava preparado para responder a uma catástrofe dessa proporção, passados 12 meses o que se vê é que ainda existe uma fragilidade muito séria em prevenção e preparação. Deveríamos estar preparados para novas e torrenciais águas de março, que podem agravar o cenário de destruição e sofrimento humano que as autoridades não enfrentaram e não venceram com a eficácia desejável e necessária.