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A terça-feira já havia começado muito mal para o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Ele teve três celulares apreendidos e algumas de suas propriedades foram alvo de mandados de busca e apreensão, sem falar na própria residência oficial do deputado em Brasília e na diretoria-geral da Câmara dos Deputados. Outros políticos relevantes estiveram envolvidos nas ações da Polícia Federal – os ministros do Turismo, Henrique Alves, e da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera, além do ex-ministro das Minas e Energia Edison Lobão, também foram atingidos pelas buscas. O presidente do Senado, Renan Calheiros, foi indiretamente afetado: apesar de o ministro do STF Teori Zavascki ter negado um pedido feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra Calheiros, a PF esteve na sede do PMDB em Alagoas e em um escritório usado pelo senador. Apesar do elenco recheado de políticos de primeiro escalão, Cunha era realmente o alvo mais importante, a julgar até mesmo pelo nome escolhido para essa nova fase da Lava Jato: “Catilinárias”, uma referência a discursos proferidos pelo cônsul romano Marco Túlio Cícero contra Lúcio Sérgio Catilina, acusado de tentar derrubar o governo.

Cunha se agarra ao cargo de presidente da Câmara e contamina inclusive ações em si corretas

Como se não bastasse a operação policial, Cunha ainda sofreria outro revés poucas horas depois. Rompendo um impasse que incluiu inúmeros adiamentos, mudanças na relatoria e até agressões físicas entre parlamentares, o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados finalmente votou a admissibilidade do processo de cassação do presidente da Câmara. Cunha é acusado de ter recebido US$ 5 milhões do petrolão e de ter mentido à CPI da Petrobras, quando se apresentou espontaneamente para negar que tivesse contas no exterior – documentos enviados pelo Ministério Público da Suíça desmentiriam o deputado.

O processo não terá resolução rápida, é verdade: Cunha tem dez dias para apresentar sua defesa – e, graças ao iminente recesso parlamentar de fim de ano, apenas esse prazo já é suficiente para que seu caso fique para 2016. Depois disso, o Conselho de Ética ainda fará votação aberta sobre o parecer final do relator e, no fim, o plenário teria de votar a cassação do parlamentar. Tudo isso deve terminar, na melhor das hipóteses, no primeiro semestre do ano que vem – isso se o processo não for paralisado por algum recurso ao Poder Judiciário. Mas, mesmo com a eventual demora, este era um passo que precisava ser dado.

Em novembro, a Gazeta do Povo defendeu a saída de Eduardo Cunha como uma primeira medida necessária para tirar o país do impasse político em que estamos afundados. Seus métodos são completamente incompatíveis com o que se espera do presidente de uma das casas do Poder Legislativo, e seu apego ao cargo mesmo diante de todos os recentes acontecimentos apenas confirma esta avaliação. Por muito menos outros presidentes da Câmara ou do Senado deixaram o posto, mas Cunha se agarra a ele, contaminando inclusive ações em si corretas, como a aceitação do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Aliás, o processo de impeachment ganharia muito com a saída de Cunha, pois uma das linhas favoritas da defesa petista tem sido a de mostrar o impeachment como uma luta do bem contra o mal, na qual o “bem” seria representado pela presidente “coração valente”, perseguida por trabalhar pelos pobres, e o “mal” seria representado pelo deputado corrupto e chantagista que tem dinheiro na Suíça. A substituição de Cunha por um deputado idôneo privaria o PT deste artifício retórico e daria maior respaldo à sequência do processo, que passaria a ser conduzido por alguém sem motivações espúrias de vingança pessoal.

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