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| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Em sua última reunião antes das eleições (a próxima ocorre em 30 e 31 de outubro, quando o futuro presidente do Brasil já terá sido escolhido), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu pela manutenção da Selic, a taxa básica de juros, no patamar de 6,5% ao ano. Foi a quarta vez seguida em que o Copom manteve a Selic inalterada, depois de uma sucessão de 12 reduções seguidas, algumas delas de até um ponto porcentual.

Após cada reunião, a instituição tradicionalmente publica um comunicado explicando brevemente as razões para a decisão tomada, bem como os votos de cada integrante do comitê – no caso da reunião encerrada na quarta-feira, houve unanimidade pelos 6,5%. O comunicado divulgado na noite do dia 19 é muito semelhante ao da reunião concluída em 1.º de agosto; a maior parte do texto mais recente consiste na repetição, palavra por palavra, de parágrafos inteiros do comunicado anterior, com algumas poucas diferenças.

Sumiram, por exemplo, as referências ao impacto da greve dos caminhoneiros, que o Copom já via como temporárias. E aparece a avaliação de que os riscos do “cenário externo para economias emergentes (...) se elevaram”. No comunicado anterior, o Copom já considerava esses riscos “elevados”, ou seja, a situação se agravou ainda mais. A avaliação faz sentido: no intervalo entre as duas reuniões, houve a crise turca e a intensificação da guerra comercial entre Estados Unidos e China, dois eventos com efeitos importantes sobre as economias emergentes, especialmente no câmbio.

A inconsequência de candidatos e eleitores que ignoram o perigo pode custar muito caro ao Brasil

Já entre os trechos copiados integralmente do comunicado anterior está o aviso sobre a necessidade de continuação da agenda reformista: “a continuidade do processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para a manutenção da inflação baixa no médio e longo prazos, para a queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia”. Essa mesma frase, aliás, já constava de um comunicado anterior, emitido após a reunião de junho deste ano.

Tanta repetição não é sem motivo. Sem a continuação das reformas, o Brasil não conseguirá resolver seu dilema fiscal, não conseguirá se tornar competitivo, não conseguirá gerar emprego e renda nos níveis necessários para um crescimento sustentável, sem novos voos de galinha como os que caracterizaram o passado recente do país. Os sucessivos déficits da Previdência mostram que, em poucos anos, se não houver mudanças substanciais no sistema, o pagamento de aposentadorias inviabilizará investimentos em outras áreas – com ou sem teto de gastos. A reforma da Previdência é a mais urgente e necessária, mas não é a única: o país ainda precisa de uma reforma tributária que racionalize a cobrança de impostos e deixe de onerar pesadamente a produção e o consumo, e de leis que retirem as inúmeras amarras que fazem do empreendedorismo no Brasil um ato de heroísmo, tantas as dificuldades impostas pelo Estado a quem deseja abrir uma empresa.

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Em outro texto que repete o comunicado anterior, o Copom afirma que “o comitê ressalta ainda que a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes”. É essa percepção de que as reformas podem ser interrompidas, ou até mesmo revertidas, que está paralisando a economia brasileira. A possibilidade de que um populista seja eleito não é desprezível, e por isso os investidores internos e externos adotam uma postura no mínimo cautelosa, isso quando não riscam o Brasil de sua lista de destinos possíveis para investimentos. O fato é que, hoje, nada garante que as reformas serão feitas.

E a continuação desse flerte com o populismo justifica que o Copom repita à exaustão os seus alertas. Não se trata apenas de dizer mais do mesmo, e sim de expor o que, hoje, é uma ameaça visível ao futuro econômico do país. A inconsequência de candidatos e eleitores que ignoram esse perigo pode custar muito caro ao Brasil, na forma de males como paralisia governamental, calotes na dívida pública ou retorno da inflação.

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