A questão econômica ocupa papel central nas preocupações e desafios de uma sociedade sobretudo pelo papel que o progresso material desempenha na viabilização das condições necessárias ao bem-estar físico, psicológico e cultural dos seres humanos. Isto é, sem os bens materiais capazes de atender às necessidades de alimento, habitação, lazer, assistência à saúde, educação, cultura, lazer e realização pessoal e social, os seres humanos não conseguem alcançar o bem-estar físico e emocional. Os bens materiais são compostos pelo conjunto de bens e serviços que a sociedade produz, e o nível de desenvolvimento e bem-estar social que eles propiciam depende inicialmente de dois elementos principais: o volume de bens e serviços produzidos e sua distribuição entre os membros da sociedade.
Em outras palavras, o padrão de vida médio de um povo é definido pelo tamanho do Produto Interno Bruto (PIB) em comparação com o tamanho da população e pela distribuição desse produto entre todos os que compõem a população. É por isso que, de início, não há mérito apenas no tamanho do PIB, posto que a capacidade do PIB em promover o bem-estar social está vinculada a quantas pessoas esse produto deve atender. Tanto é assim que, quando se olha o ranking do PIB por país, o Brasil fica em torno da nona posição, mas quando se analisa o PIB por habitante – isto é, o PIB dividido pelos 203,1 milhões de pessoas (total da população em dezembro de 2022, segundo o IBGE) –, O Brasil oscila em torno da posição 64, conforme o ano.
Pelos critérios usuais, dos 193 países filiados à Organização das Nações Unidas (ONU), apenas 35 deles são considerados desenvolvidos, logo há pelo menos 29 países não desenvolvidos que têm renda por habitante superior ao Brasil, sendo que a renda brasileira por habitante é apenas 23,5% do que é nos Estados Unidos. Esses dados comparativos dão a dimensão do grau de atraso e pobreza do Brasil, dissipando assim a ilusão de grandeza provocada pela divulgação de que o país tem a nona economia mundial.
Visto isso, para o Brasil subir na escala do nível médio de bem-estar social e se aproximar do último colocado entre os 35 mais desenvolvidos, o PIB tem que crescer regularmente entre 3% e 5% ao ano acima da taxa de aumento da população durante pelo menos três décadas. A rigor, já foram feitos planos e muitas previsões sobre a possibilidade de o Brasil atingir o grau de desenvolvimento em 2050, objetivo que parece distante logo de saída, por uma razão: para a chegada do ano 2050 faltam apenas 27 anos, e nada indica que o Brasil está no caminho de obter expressiva taxa de crescimento do PIB em tão pouco tempo.
Medida pela renda por habitante, a distância econômica entre o Brasil e os países mais adiantados é grande, impossibilitando ser percorrida em 27 anos. Entretanto, é preciso começar e persistir no caminho do avanço, tarefa na qual o Brasil tem tido dificuldade, como mostra o histórico do país em não crescer sistematicamente por muitos anos seguidos. Pelo contrário: o país é useiro na fabricação de crises políticas e econômicas. De qualquer forma, a meta primeira tem que ser o crescimento do PIB, não bastando que seja meta apenas anunciada, mas que a ela se sigam as políticas públicas, reorganização das leis, melhoria nas instituições nacionais e implantação de medidas capazes de puxarem o crescimento do PIB.
Esses dados comparativos dão a dimensão do grau de atraso e pobreza do Brasil, dissipando assim a ilusão de grandeza provocada pela divulgação de que o país tem a nona economia mundial
Segundo estimativa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a economia brasileira deve crescer 1,8% no próximo ano, enquanto o Ministério da Fazenda fala em 2,2%. Em qualquer dos casos, se descontada a taxa de aumento populacional, o crescimento líquido será muito pequeno, especialmente para um país com deficiências estruturais que impedem o crescimento a taxas maiores.
No ano de 2010, o último dos dois mandatos de Lula como presidente da República e ano da eleição de Dilma Rousseff, no debate público falava-se que, para o Brasil deslanchar e ter crescimento robusto, o novo governo petista deveria atacar dois problemas graves logo no início de 2011: a necessidade de aumentar com urgência os investimentos em infraestrutura física e fazer uma revolução na indústria de transformação.
A infraestrutura física brasileira era pequena e seus equipamentos envelhecidos e superados do ponto de vista tecnológico. Por coincidência, o setor industrial passava por gargalo parecido, isto é, era pequeno em termos de tamanho, com plantas industriais envelhecidas e equipamentos produtivos longe das tecnologias modernas, cujo resultado era estagnação da produtividade (produto por hora trabalhada). A indústria brasileira está com a produtividade estagnada desde os anos 1980, apesar de alguns subsetores de excelência. O fato é que trazendo esses problemas para o momento atual, portanto após 22 anos, o diagnóstico da infraestrutura e do setor industrial continua o mesmo que era em 2010, mesmo contando alguns melhoramentos nesse período.
Claro que há outros problemas que emperram o crescimento brasileiro, mas sem melhorias substanciais na infraestrutura e no setor industrial, mesmo que haja crescimento expressivo em outros setores, a economia brasileira como um todo não terá crescimento geral para sonhar com crescimento nas próximas duas ou três décadas capaz de aproximar o país do clube dos desenvolvidos. O problema está posto e cabe à sociedade e ao governo dar respostas ao desafio.
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