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editorial

O desafio cambial

No dia 25 de julho, terça-feira passada, o preço do dólar em reais desceu a um nível impensável: R$ 1,54. Na implantação do Plano Real, em julho de 1994, a taxa de câmbio foi fixada em R$ 1. Após 20 anos de inflação crônica, o Brasil fazia nova tentativa de pôr ordem na economia e implantava mais um plano econômico. Funcionou. A inflação foi debelada e o Brasil começou a experimentar uma fase de desenvolvimento com estabilidade da moeda.

Todavia, nos últimos 16 anos, desde a implantação do Plano Real, os preços internos subiram em torno de 250%, dependendo do índice usado para medir a inflação. Um produto que era vendido no mercado interno a R$ 100 está, atualmente, com preço em torno de R$ 350. Se fosse aplicado o mesmo índice às exportações, os exportadores deveriam estar recebendo R$ 3,50 por cada dólar obtido com as vendas ao resto do mundo, sem considerar a inflação internacional. Quando os preços sobem lá fora, os exportadores recebem mais dólares pelas mesmas quantidades vendidas, o que compensa parcialmente eventuais sobrevalorizações da moeda nacional.

Levando em conta todos os fatores envolvidos na identificação do preço ideal da moeda estrangeira, o equilíbrio do comércio exterior do Brasil exigiria que o dólar fosse cotado, no mínimo, em torno de R$ 2,30. Isso significa que, sempre que a taxa de câmbio cai abaixo desse valor, os exportadores começam a ter dificuldades e perdas em suas vendas externas. Ainda que possa haver alguma variação em torno da taxa de câmbio ideal, o fato indiscutível é que com o dólar a R$ 1,55 o comércio exterior pode mergulhar em grave crise, em função de prejuízos excessivos.

O dólar barato ajuda a manter baixos os preços dos produtos importados, o que contribui para manter baixa a inflação interna. Mas, o preço de se controlar a inflação pelo lado dos baixos custos das importações é a imposição de perdas para as empresas exportadoras, redução da atividade no setor exportador, fechamento de fábricas e desemprego. O que o mercado vem tentando entender é: por que a taxa de câmbio caiu tanto e insiste em se manter tão baixa? Há várias razões para isso, mas algumas são notórias. Primeiro, o Brasil aumentou suas exportações nas últimas duas décadas, gerando superávit em dólares. Segundo, a estabilidade econômica passou a atrair vultosos recursos estrangeiros para investimentos diretos no país. Terceiro, com a queda dos juros internacionais, o fluxo de capitais de curto prazo para o mercado brasileiro cresceu significativamente.

Esses fatores, somados à elevação dos preços internacionais das commodities que o Brasil exporta, provocaram a formação de reservas internacionais maiores do que a dívida externa do país e excesso de oferta de dólares na economia brasileira. Resultado: o preço do dólar despencou. O governo vem tentando várias medidas para fazer a taxa de câmbio subir. Primeiro, foi a imposição de um tributo de 2% de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre o capital estrangeiro ingressado no Brasil para aplicação em títulos de renda fixa ou em compra de ações na bolsa de valores. Depois, foi a tributação de compras no exterior com cartões de crédito. Nada disso surtiu efeito expressivo.

Agora, o governo vem com mais uma medida para tentar conter a queda da taxa de câmbio e, quem sabe, conseguir fazê-la subir. Parte da responsabilidade pela baixa cotação da moeda estrangeira é o chamado "mercado futuro". Seja para se proteger contra variações na taxa de câmbio ou para especular no mercado financeiro, bancos e empresas tomam posições vendidas (venda de dólares, hoje, para entrega no futuro, segundo uma cotação definida hoje). Percebendo que as operações nesse mercado eram volumosas o suficiente para interferir na cotação do dólar, o governo resolveu começar com uma tributação de 1% de IOF sobre essas operações, sinalizando que pode chegar até a 25%. Com tamanha taxa de imposto, o mercado futuro se desintegraria e não mais teria influência na redução da taxa de câmbio.

Nos primeiros dias após a implantação da nova medida a taxa de câmbio começou a subir, mas de forma tímida. É quase certo que outras medidas serão necessárias, caso se busque uma recuperação mais significativa do preço do dólar. O Brasil optou pela política de câmbio flutuante a partir de 1999, o que foi bom. Mas o problema é que nem todos os países estão jogando pelas mesmas regras, e liberdade cambial funciona desde que as regras sejam as mesmas para todos que competem no mercado internacional.

Nessa arena, há um país que não quer saber de liberdade cambial e, por isso, vem complicando o jogo: a China. Como esse país é o mais importante parceiro comercial do Brasil, ao manter sua moeda desvalorizada, as exportações chinesas levam vantagem sobre seus concorrentes. Diante disso, o Brasil não pode ficar omisso e deve, respeitando a política de câmbio livre, adotar medidas para defender a economia interna.

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