Na revisão sobre o tamanho da população brasileira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que, em 30 de junho de 2019, o Brasil atingiu 210,1 milhões de habitantes. Desse total, há 106,1 de pessoas com capacidade de trabalho, das quais 12,5 milhões estão desempregadas e 4,8 milhões estão subocupadas, ou seja, trabalhando em tempo parcial. Além de significar um enorme desperdício de força de trabalho e um dos mais graves problemas sociais, a falta de renda faz desse contingente desempregado ou subempregado um imenso grupo de consumidores sem poder de compra.
A demora do país em sair da crise, elevar o Produto Interno Bruto (PIB), reduzir o desemprego e entrar em período de recuperação econômica constituem causas de tensões sociais, impaciência e críticas aos governantes. Há elementos no cenário nacional que respondem pela gravidade da crise: a profunda recessão havida no governo Dilma, especialmente em 2015 e 2016; os déficits das contas do setor estatal, que atingiram níveis alarmantes; o enorme rombo na Previdência do governo federal e dos estados, conforme balanço divulgado recentemente; a dívida pública ameaçando passar os 80% do PIB, o que faz dela uma ameaça perigosa; e o crescimento do PIB em ritmo mais lento que o crescimento da população. Com todos esses problemas, não há saída milagrosa, rápida e indolor capaz de fazer o país crescer e superar suas mazelas.
Dez meses de um novo mandatário na Presidência da República é um tempo muito curto para reverter tantos e tão graves problemas
Foi nesse panorama que o governo Bolsonaro assumiu no início deste ano, e que muitas esperanças foram depositadas no ministro da Economia, Paulo Guedes, quanto à possibilidade de o Brasil começar a se recuperar ainda neste segundo semestre. Como o tratamento desse paciente chamado “economia brasileira” vem sendo feito com lentidão, alguns retrocessos, idas e vindas em relação às reformas, lentíssima recuperação do crescimento do PIB e baixa elevação do nível de emprego, começaram a circular notícias de que o ministro estaria sendo alvo de críticas lançadas por assessores do gabinete presidencial.
No meio das notícias, afirmou-se que o problema deriva das expectativas criadas por Paulo Guedes, tanto por suas posições liberais quanto por sua capacidade reconhecida em economia e gestão. No entanto, além de os problemas serem de alta complexidade, no caminho do ministro existem o próprio governo, o Congresso Nacional, os políticos e seus interesses, e as lutas partidárias. Como é próprio do regime democrático, nada de relevante pode ser feito sem o voto e a aprovação do parlamento. Quando entra em cena o Poder Legislativo, com todo o jogo de conflitos e fisiologismo eleitoral, não há como saírem soluções rápidas. Em especial, quando se trata de Brasil, nada mais normal que tudo demorar mais do que a urgência requerida pelos problemas.
Não se trata de arrumar desculpas para eventuais demoras e erros do governo, inclusive do próprio Ministério da Economia. Trata-se apenas de entender que dez meses de um novo mandatário na Presidência da República é um tempo muito curto para reverter tantos e tão graves problemas. No plano ideal, o PIB teria de crescer 4% ou 5% ao ano para, em uma década, recuperar o que foi perdido na recessão, abrigar o aumento da força de trabalho derivado do crescimento populacional e recolocar no mercado de trabalho o grande contingente de desempregados e subempregados. Mas estimativas atualizadas informam que o PIB deste ano crescerá apenas 0,9%, o que é muito pouco para sustentar uma recuperação e promover a solução dos vários problemas. Essa é a principal razão para eventuais críticas ao ministro, por mais que apenas ele e sua equipe não tenham o poder de criar uma recuperação em prazo curto.
Não seria inédito se, considerada a cultura política brasileira, o ministro acabasse bombardeado e até mesmo apeado do cargo, mesmo que isso seja ruim para o país. Até o momento, Paulo Guedes deu mostras de ser profundo conhecedor dos problemas do país, de estar no caminho certo e de ter disposição para enfrentar os obstáculos na aprovação e execução das medidas necessárias. Embora ninguém esteja livre de erros, de forma geral o plano do ministro Guedes e sua equipe tem sido recebido como adequado para repor a economia nos trilhos. O grande limitador é o tempo, pois os problemas são muitos e o Brasil tem pressa, mas até agora nenhuma das reformas foi concluída – nem mesmo a previdenciária, que, apesar de ter avançado, na melhor das hipóteses será concluída no Senado Federal no próximo mês.
As informações de bastidores também dão conta de que há, nos círculos íntimos do governo, quem esteja aborrecido com a política de austeridade do Ministério da Economia, pois a mão fechada nas torneiras do gasto é algo de que nenhum governante gosta. Ocorre que os problemas derivam exatamente de os governantes terem, desde a Constituição de 1988, estourado os limites de gastos, provocado inchaço da máquina estatal e administrado mal os orçamentos públicos e as políticas econômicas, tudo isso ao lado de ineficiência e corrupção. O eventual enfraquecimento do ministro da Economia não será bom para o Brasil.