O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou que o Produto Interno Bruto (PIB) de 2023 cresceu 2,9% em relação ao ano anterior. No governo, o clima foi de comemoração. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que “o PIB veio bem acima do que nós esperávamos. Esperávamos um PIB superior a 2% no começo do ano passado. Nós quase chegamos a 3% de crescimento”. O presidente Lula também fez declarações eufóricas dizendo que houve quem dissesse que o PIB cresceria menos que 1%. O resultado não é ruim, mas comporta alguns destaques importantes.
Para começar, o setor que deu a principal contribuição para o crescimento do PIB no ano passado foi justamente aquele que mais recebeu ataques do governo, mais especificamente do próprio presidente da República. Desde a campanha eleitoral, quando Lula disse que empresários do agronegócio eram “fascistas”, o presidente vem sendo hostil com o setor, enquanto homenageia o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), como quando levou o chefão João Pedro Stédile na comitiva presidencial em viagem à China.
A agropecuária e o setor extrativista tiveram papel decisivo para o crescimento do PIB – a agropecuária bateu recorde, com expansão de 15,1% dentro do PIB em 2023. Além do aumento da produção, houve importante ganho de produtividade sobretudo na agricultura, e isso é especialmente notável, pois a base sobre a qual a agropecuária brasileira cresceu em quantidade produzida e em índices de produtividade já era uma base com elevado grau de eficiência e qualidade. Tanto é verdade que relatórios do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) há anos vêm apontando a agricultura brasileira como um caso único de sucesso.
Nada mais esdrúxulo que um país ver seu próprio governo criticando de forma grotesca setores econômicos que estão entre os de melhor desempenho
Outros setores também deram contribuição relevante para o desempenho do PIB, como é o caso da indústria extrativa, que teve crescimento de 8,7%, especialmente pelo resultado na extração de petróleo, gás natural e minério de ferro; bem como os setores de eletricidade, gás, água, esgoto e tratamento de resíduos, com alta de 6,5% em 2023. De qualquer forma, vale lembrar que o Brasil não pode ficar na dependência de uns poucos setores com desempenho expressivo capaz de sustentar o crescimento do PIB geral, pois o crescimento sustentado a taxas relativamente altas todos os anos depende da estrutura geral da economia, e não do bom resultado de apenas uma parte do conjunto de setores e subsetores do sistema produtivo nacional.
Entre os fatores dos quais o Brasil mais depende para promover o crescimento econômico, elevar a produtividade do trabalho (produto por hora de trabalho de todos os trabalhadores do país em seu conjunto) e melhorar os indicadores sociais está a necessidade de aumentar o capital físico, elevar o grau de tecnologia incorporada ao processo produtivo, substituir máquinas e equipamentos envelhecidos e, principalmente, aumentar o porcentual de investimento em relação do PIB.
Isso significa que o país precisa aumentar sua taxa de investimento como fração do PIB, que hoje gira em torno de 17%, quando o ideal seria aproximar-se de 25%. Essa distância é muito grande e o caminho para vencê-la, ou pelo menos reduzi-la, requer investimentos nacionais privados, investimentos do governo e investimentos estrangeiros, de forma regular, todos os anos. O parque produtivo brasileiro, especialmente o parque industrial, vem sofrendo há pelo menos quatro décadas com o envelhecimento, a baixa produtividade e a baixa taxa de expansão, e isso está entre as causas do atraso ainda existente no país, principalmente quando se tem em conta que o crescimento que efetivamente contribui com a elevação da renda por habitante e melhoria social é pela taxa de aumento do PIB menos a taxa de crescimento populacional.
Se, para um aumento de 2,9% no PIB, o aumento da população ficar em 0,6%, o crescimento do PIB per capita será de 2,3%, lembrando que o PIB é o aumento da produção do país antes de descontado o desgaste de todo o estoque de capital físico (a depreciação). O capital físico, desde a infraestrutura até as máquinas e equipamentos, se desgasta durante o processo produtivo e requer reposição, substituição e expansão, razão pela qual uma fração do PIB deve ser composta por bens de capital e não por bens e serviços de consumo. É por essas e outras razões que os especialistas afirmam há tempos que o Brasil teria de aumentar o PIB anualmente em torno de 5% para, em três décadas, atingir renda per capita que o aproximasse dos países desenvolvidos. Assim, nada mais esdrúxulo que um país ver seu próprio governo criticando de forma grotesca setores econômicos que estão entre os de melhor desempenho.
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