Na sexta-feira, dia 28, o IBGE divulgou os dados da Pnad Contínua, com uma notícia nada animadora: o desemprego emendou sua terceira elevação consecutiva, fechando o primeiro trimestre de 2023 em 8,8%, contra 8,6% no trimestre móvel encerrado em fevereiro e 8,4% no período de três meses encerrado em janeiro. O Brasil, agora, está perto de ter 9,5 milhões de desempregados, depois de terminar o ano passado com 8,6 milhões de pessoas procurando uma ocupação. Como tem acontecido com certa frequência nos últimos anos, março foi mais um mês de descasamento entre a Pnad Contínua e o Novo Caged, do Ministério do Trabalho, que registrou abertura de 195 mil vagas com carteira assinada – pelos dados do IBGE, houve estabilidade neste indicador, com 36,7 milhões de pessoas com emprego formal.
A queda na ocupação, nos dados da Pnad Contínua, veio justamente no setor que não é coberto pelo Novo Caged, o mercado de trabalho informal – a taxa de informalidade agora está em 39%, contra 38,8% no último trimestre do ano passado. Também houve elevação na taxa de subutilização (o porcentual de desocupados e subocupados por trabalhar menos horas do que teriam disponibilidade), que agora é de 18,9%. Os desalentados – que não estão nem mesmo procurando trabalho – se mantiveram estáveis, em 3,9 milhões de pessoas.
Lula parece não ter outro plano para gerar empregos a não ser bater no Banco Central para que baixe os juros na canetada e ajude a economia a crescer
O IBGE ainda trabalha com a possibilidade de este início de ano ser uma espécie de “retorno à normalidade”, depois do período completamente atípico da pandemia, que desorganizou todos os indicadores e fez com que muitas comparações se tornassem irreais, seja porque a base estava inflada demais ou deprimida demais. A coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, Adriana Beringuy, voltou a afirmar, como fizera em outras divulgações da Pnad Contínua, que tradicionalmente o desemprego avança nos primeiros meses de cada ano, com exceção de 2022, que foi marcado pela recuperação da economia após o caos da Covid-19.
A desaceleração da economia, no entanto, é uma possibilidade que também não pode ser descartada, e Beringuy já afirmou em ocasiões anteriores que seria necessário um período de tempo maior para entender se este ciclo de queda em 2023 é motivado mais pela sazonalidade natural do período ou porque estamos passando por temos mais difíceis. Uma pista pode vir do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), uma “prévia do PIB”, que surpreendeu em fevereiro, com crescimento de 3,32% em relação a janeiro, na comparação com ajuste sazonal – a mediana das projeções era de 1,2%, e havia quem apostasse até em retração. Mesmo assim, ainda que o IBC-Br aponte para uma economia mais aquecida que o imaginado, será preciso esperar pelos dados do PIB, que usa metodologia ligeiramente diversa do IBC-Br.
Independentemente de estarmos diante de um movimento natural ou de uma possível crise no mercado de trabalho, o que o país percebe é a apatia completa do governo em relação a propostas no sentido de estimular a geração de empregos. Iniciativas anunciadas recentemente, como as novas regras de reajuste do salário mínimo, beneficiam quem já tem emprego formal, mas pouco dizem aos desempregados. Para estes, o governo parece não ter outro plano a não ser bater no Banco Central para que baixe os juros na canetada e ajude a economia a crescer. No entanto, como o presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem se esforçado para explicar (em vão, ao que parece), os juros não são causa, mas consequência de uma série de outros fatores, que incluem políticas fiscais irresponsáveis. O teto de gastos já ruiu, e em seu lugar Lula e Fernando Haddad querem colocar uma nova regra que já não é suficientemente sólida, prevê impunidade para o descumprimento das metas, e ainda assim é bombardeada pelos próprios partidos da base aliada de Lula, que desejam deixar o arcabouço ainda mais frouxo. Nesse ritmo, ainda que a alta atual do desemprego seja realmente um fenômeno sazonal esperado, em breve a irresponsabilidade governamental será a única culpada caso a desocupação continue subindo.
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