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Editorial

O desemprego volta a cair

(Foto: AEN)

Depois de uma sequência de quatro meses em que a taxa de desemprego se manteve estável, oscilando entre 11,1% e 11,2%, criando o temor de que a retomada do emprego tivesse perdido fôlego em um patamar ainda muito alto, veio uma boa notícia. O índice medido pela Pnad Contínua, do IBGE, voltou a recuar, caindo para 10,5% no trimestre móvel que vai de fevereiro a abril, superando as expectativas do mercado financeiro. A queda de 0,7 ponto porcentual na comparação com o trimestre móvel anterior, encerrado em março, remete ao ciclo de redução do desemprego observado entre junho e dezembro de 2021, quando o Brasil dava sinais de ter deixado para trás o pior momento da pandemia de Covid-19, em termos econômicos – naquele período, o desemprego recuava, em média, meio ponto porcentual de um mês para outro.

Os números do mercado de trabalho já são, por exemplo, mais positivos que aqueles registrados nos piores momentos da crise de 2015-2016, a herança maldita da política econômica lulopetista. Os 10,5% de desemprego são a menor taxa para um trimestre móvel desde os 10,3% registrados entre dezembro de 2015 e fevereiro de 2016 – naquela época, a deterioração do emprego estava em rota ascendente, ao contrário do momento atual. Além disso, o número de trabalhadores com carteira assinada, 35,2 milhões, é o maior desde o trimestre móvel encerrado em abril de 2016. A última leitura também registrou um recorde no número de pessoas ocupadas – os 96,5 milhões são o maior número da série histórica iniciada em 2012 –, mas isso também se deve ao enorme número de informais: os 12,5 milhões de brasileiros sem carteira assinada no setor privado também são um recorde na medição do IBGE.

O país precisa perseguir com afinco o objetivo de trazer de volta ao patamar de um dígito seus indicadores econômicos mais perversos, o desemprego e a inflação

Após um trimestre inteiro de estagnação no mercado de trabalho, espera-se que a nova queda no desemprego não seja um momento isolado de otimismo, e sim o começo de um novo período de avanço semelhante ao do segundo semestre do ano passado, quando a taxa medida pelo IBGE recuou mais de três pontos. O país precisa perseguir com afinco o objetivo de trazer de volta ao patamar de um dígito seus indicadores econômicos mais perversos, o desemprego e a inflação. A soma desses dois números ficou conhecida como “índice de miséria”, graças ao trabalho do economista Arthur Okun. Segundo ele, quando esta conta superasse 12, estaríamos diante de uma situação grave, com desorganização na economia e aumento generalizado da pobreza, podendo até mesmo causar convulsão social. No caso brasileiro, ainda estamos muito longe de reduzir seu “índice de miséria” a níveis aceitáveis – para isso, seria preciso cortar pela metade tanto a inflação quanto o desemprego.

Este objetivo, no entanto, fica mais difícil considerando um outro número que também anda nos dois dígitos: a taxa de juros. Com o Banco Central elevando a Selic na tentativa de segurar a onda inflacionária – que em boa parte é consequência da inflação global, mas é agravada por alguns fatores locais –, o crédito e o consumo ficam prejudicados, freando o crescimento e, consequentemente, reduzindo o ritmo de geração de empregos. A janela para as reformas macroeconômicas que poderiam trazer mais algum dinamismo à economia ou melhorar a confiança do investidor na saúde fiscal brasileira está se fechando, à medida que o período eleitoral se aproxima.

Sem as reformas, as perspectivas para uma normalização da economia acabam se resumindo a mais aperto monetário, com o seu efeito negativo sobre o crescimento, ou tentativas de intervenções populistas em preços como os dos combustíveis e da energia elétrica, canetadas que funcionam no curtíssimo prazo, mas são comprovadamente desastrosas no médio e longo prazo, como experiências anteriores já demonstraram na era petista. Os 11,3 milhões de brasileiros ainda à procura de trabalho precisam de soluções robustas, de solidez fiscal que atraia investimento, de uma tributação razoável para quem produz, e não de medidas populistas tiradas da cartola.

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