O anúncio da Coreia do Norte de que vai lançar em abril um foguete, supostamente para colocar um satélite em órbita, provocou alarme internacional e acabou com o otimismo em torno de um possível acordo para pôr fim ao plano do regime norte-coreano de produzir armas atômicas.

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Imediatamente após o comunicado do país comunista, os Estados Unidos ameaçaram suspender o envio de 240 mil toneladas de comida ao país. O governo norte-americano suspeita de que o foguete tenha como finalidade testar um míssil balístico.

A reviravolta nas negociações entre Washington e Pyongyang ocorre num momento em que a comunidade internacional tenta reavivar as esperanças de um acordo para impedir a proliferação de armas nucleares.

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Pressionado pelas nações democráticas e com a economia arrasada, o regime norte-coreano acenou em 29 de fevereiro que concordava em suspender os testes nucleares, assim como o enriquecimento de urânio e os lançamentos de mísseis de longo alcance, além de permitir que inspetores nucleares visitem seu complexo nuclear. Como contrapartida, exigiu ajuda alimentar.

Mas, mesmo antes do anúncio de ontem sobre o lançamento de um foguete, as dúvidas sobre as reais intenções do governo comunista eram muitas. Essa não é a primeira vez que a Coreia do Norte promete pôr um fim ao seu projeto de produção de armas nucleares e em seguida volta atrás.

Os fracassos anteriores são suficientes para conter o otimismo exagerado. Desde que a Coreia do Norte aderiu ao Tratado de Não Proliferação Nuclear, em 1985, o país fez três acordos para suspender seu programa nuclear. Na segunda tentativa, em 2005, a proposta era semelhante à apresentada agora: o país aceitaria suspender seu plano para produzir armas atômicas em troca de alimentos. No ano seguinte, entretanto, o governo norte-coreano explodiu uma bomba-teste.

As dúvidas também persistem em relação às negociações com o Irã, outro país suspeito de estar desenvolvendo armas atômicas. Na última quinta-feira, Teerã fez um pedido formal para que seja fixada uma data para o reinício das negociações com o chamado grupo 5+1, formado pelos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU – EUA, Grã-Bretanha, França, Rússia e China – mais a Alemanha.

Apesar das boas intenções expressas na carta enviada às potências – que fala da "necessidade de que ocorram negociações sérias e construtivas, sem pré-condições e com o objetivo de obter uma cooperação de longo prazo" –, deve-se levar em consideração que, historicamente, o regime iraniano tem se oposto radicalmente a inspeções amplas de suas instalações nucleares.

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Enquanto Teerã insiste que seus projetos têm fins pacíficos, há o temor de que o país esteja adiantado na fabricação da bomba atômica, o que poderia provocar uma corrida armamentista sem precendentes em todo o Oriente Médio, tornando essa região ainda mais instável do que é atualmente.

O maior risco no momento é de um ataque de Israel, país também suspeito de ter desenvolvido armas nucleares. Um bombardeio israelense às instalações nucleares iranianas seria o estopim de uma guerra que poderia causar danos em todos continentes, com reflexos na economia mundial e a consequente perda de avanços sociais conquistados a duras penas.

O caminho para o fim dos conflitos e a construção da paz duradoura passa pelo acesso irrestrito dos técnicos da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Todo país deve ter direito a desenvolver tecnologia nuclear para fins pacíficos, mas transparência e colaboração são imprescindíveis.

Irã e Coreia do Norte, assim como qualquer outra nação que busque avanço nuclear, poderiam dar uma grande contribuição para que, no futuro, tenhamos um mundo sem armas nucleares. Em vez de gastar seus escassos recursos na busca de arsenal atômico, iranianos e norte-coreanos deveriam abrir suas portas aos técnicos da AIEA e se unir ao coro da maioria dos países que pressionam hoje as potências nucleares a destruírem seus armamentos.