A principal necessidade do país e o maior desafio, no campo econômico, dizem respeito ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Essa deve ser a prioridade máxima do governo e da sociedade, e não se trata de priorização injustificada por crescimento econômico por ou supervalorização do aspecto material da vida, quando o país apresenta, também, enorme elenco de problemas políticos, ambientais, educacionais, culturais, de direitos humanos e outros. A questão é que a primeira condição para que as pessoas e as famílias possam exercer o que os sociológicos chamam de o “caráter de humanidade”, inerente aos seres humanos, é o atendimento dos problemas básicos requeridos à sobrevivência física: alimentação, moradia, transporte, educação, saúde, lazer e os bens culturais.
O acesso aos bens e serviços capazes de propiciar a estrutura econômica da vida depende de produção, emprego, renda e poder de compra de toda a população. Nessa linha, não somente deve haver um produto nacional, mas esse produto deve ser de tamanho tal que crie emprego para todos e renda média suficiente para aquisição dos bens e serviços capazes de atender aquele conjunto de necessidades para a realização da “humanidade” dos membros da sociedade. O Brasil tem um PIB cujo tamanho – US$ 14.754 por habitante, segundo a nova metodologia de contabilidade nacional adotada pelo Banco Muncial – é insuficiente para oferecer um padrão médio de bem-estar de nível compatível com os países que estão no grupo dos desenvolvidos. Na comparação internacional, o produto por habitante classifica o Brasil como país pobre.
Não há programa social mais necessário e mais importante do que o crescimento do produto brasileiro e os empregos que ele pode gerar
Além de seu valor per capita, o PIB tem outra função essencial: a capacidade de dar empregos a todos os que compõem a população economicamente ativa (aquela em condições de trabalhar). Dizendo de outra forma, é o tamanho do PIB que define se, no processo produtivo, haverá empregos para todos ou não. Estima-se que desemprego em torno de 5% da população é considerado normal, em função dos movimentos regulares do sistema econômico. Os economistas chamam essa taxa aceita como normal de “desemprego fricativo”, pois ele resulta da fricção entre a oferta (feita pelo sistema produtivo) e a demanda (feita pelos agentes de mercado: pessoas, empresa, governo e resto do mundo). O Brasil está com 213,5 milhões de habitantes (segundo o relógio dinâmico do IBGE), 106 milhões em condições de trabalhar, em torno de 13 milhões empregados no setor estatal (não submetidos ao desemprego em razão da estabilidade), restando, portanto, 93 milhões de trabalhadores à disposição do setor privado.
Assim, a se aceitar como normal o desemprego de 5%, o país estaria no nível ótimo se não mais que 5,3 milhões formassem o contigente de brasileiros desempregados. A primeira contatação é que o PIB brasileiro atual, além de ser baixo no cálculo por habitante, é pequeno para o tamanho da força de trabalho. Essa realidade pode ser vista no número de 14,4 milhões de desempregados e mais 5,6 milhões de desalentados. Portanto, o aumento do nível de emprego depende diretamente do aumento do PIB, mesmo porque a evolução tecnológica é eliminadora de empregos. Logo, o crescimento econômico precisa ser robusto para absorver todos os que têm condições de trabalhar; esse é não apenas um problema social, mas é a principal questão social em si. Não há programa social mais necessário e mais importante do que o crescimento do produto brasileiro e os empregos que ele pode gerar. No meio desse cenário, a informação de que o PIB do segundo trimestre de 2021 foi 0,1% menor que o PIB do trimestre anterior é ruim, sobretudo por retardar a redução da taxa de desemprego.
Entre os especialistas tem havido debate sobre que causas levaram o PIB a cair quando a expectativa geral era de que seguisse a trajetória de crescimento, principalmente porque, à medida que as semanas passam, o Brasil vai aumentando o número de pessoas vacinadas. A esperança era de que a atividade econômica seguisse crescendo, após ter sido duramente retraída na fase de pandemia e isolamento social. O que ressalta dessa situação é entender que razões levaram à queda do PIB. Em termos gerais, sabe-se que vivemos instabilidade política, nervosismo na relação entre os três poderes da República, uma grave crise hídrica, encarecimento acentuado da energia (em parte como resultado da escassez de chuvas), elevação da inflação e queda na taxa de confiança dos investidores.
O Brasil vem apresentando alguns aspectos positivos, como alguma recuperação na infraestrutura, o avanço na privatização de setores importantes, a redução na burocracia (como a aprovação da Lei 14.195/2021, que facilita a abertura e registro de empresas) e o bom momento do comércio exterior. Porém, esses aspectos positivos não impulsionam o crescimento do PIB imediatamente nem funcionam desconectados dos problemas que inibem o crescimento. O desafio de crescer no Brasil é sempre espinhoso e difícil, e o sistema político não está em um momento bom, como se nota pelos radicalismos, pelos ataques às liberdades individuais e pelas crises de governabilidade.
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