O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), órgão das Nações Unidas (ONU) responsável por produzir informações científicas em relatórios anuais, divulgados periodicamente desde 1988, continua ampliando e aprofundando suas previsões sombrias sobre as mudanças climáticas do planeta. Os dados do 4º Relatório do IPCC, divulgados esta semana embasaram um seminário brasileiro sobre o tema, em Brasília, em que foram discutidas as conclusões de pesquisas de 2.500 cientistas do mundo todo.

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O relatório mostra implicações e recomendações para as políticas públicas no mundo e no Brasil. Nesses vinte anos de trabalho, a instituição já estabeleceu importantíssimas referências sobre a mudança do clima no planeta, que hoje estão balizando as ações governamentais dos principais países. O texto de 2007, por exemplo, é considerado um marco por certificar, com 90% de certeza, que os homens são os responsáveis pelo aquecimento global.

Para o relator do painel da ONU, o professor britânico Martin Parry, o mundo só escapa do colapso se reduzir emissões de gases poluentes em 80%, a partir de 2015. O avanço do aquecimento global, segundo a conclusão dos cientistas, deve provocar um crescimento de 4ºC nas temperaturas médias do mundo e levar à extinção 45% das espécies da Amazônia até o ano de 2100.

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No relatório entregue ao presidente Lula, os dados do IPCC são igualmente preocupantes em relação ao Brasil. O aquecimento global deve atingir em cheio a agricultura nacional, responsável por 50% do Produto Interno Bruto (PIB). Com aumento da temperatura, há a tendência de divisão do ano em apenas duas estações – uma seca, mais quente; outra chuvosa, mais fria. Uma das regiões mais afetadas seria o semi-árido nordestino, que deve ficar ainda mais desértico e com terras incultiváveis. Há também a previsão de diminuição de até 65% da atual Floresta Atlântica. Esse processo de "tropicalização" das estações levaria a conseqüências como o fim das lavouras de café no Paraná e de maçã em Santa Catarina.

Estas são apenas algumas previsões catastróficas sobre o cenário do futuro, de centenas apresentadas pelos cientistas, neste e em anos anteriores, que indicam que a humanidade precisa mudar radicalmente seu comportamento no trato do meio ambiente. Neste contexto, os países desenvolvidos, os Estados Unidos, especialmente, têm um papel crucial. Nação mais poluidora do planeta, os EUA, que na era W. Bush se recusou a aderir ao Protocolo de Kyoto, têm pela frente o desafio de apoiar e liderar um programa definitivo de redução das emissões de gases. Esta decisão estará nas mãos do futuro presidente, a ser eleito no próximo dia 4.

Não será fácil. Neste momento, a prioridade dos governos é a eliminação da turbulência econômico-financeira mundial. E, na próxima década, deverá ser a consolidação de um novo modelo de desenvolvimento global, que possa garantir mais um ciclo de crescimento econômico, sem os sérios percalços que vemos hoje. Isto implica na mobilização de todas as forças produtivas e na utilização máxima dos recursos naturais. Um processo que, com certeza, vai manter acelerado o aquecimento global.

Há uma saída. Governantes de boa vontade precisam conciliar a necessidade do crescimento econômico com a redução das emissões. Para que isso aconteça, a opinião pública, tanto dos países desenvolvidos como dos emergentes, tem um papel de relevância: deve zelar ativamente pelo direito fundamental à vida da atual e das futuras gerações do planeta.