Governar é fazer escolhas. Qualquer um que sentasse na cadeira de presidente da República, no momento seguinte teria de responder a uma pergunta: o governo deve gastar mais em serviços sociais ou em obras de infra-estrutura? Se o governante optasse por não fazer nenhuma obra (investimento) e gastasse toda a arrecadação em serviços sociais, ele melhoraria a vida do povo no presente e poderia se orgulhar de estar fazendo "justiça social". Entretanto, o preço dessa escolha seria levar o país ao caos em poucos anos, por uma razão simples: para que a produção anual cresça é necessário que o "estoque de capital" cresça, o que só é possível se houver investimentos em estradas, ferrovias, portos, energia, aeroportos, máquinas, equipamentos e novas empresas. Como parte desses setores é estatal, o governo tem de investir para possibilitar o aumento do Produto Interno Bruto (PIB) de um ano para outro. O fato de a população crescer a mais de 2 milhões de habitantes por ano agrava ainda mais o desemprego e a pobreza.
Se, por outro lado, o governante optasse por gastar tudo em investimentos e nada em serviços sociais, o país veria crescer a sua infra-estrutura e adquiriria condições para o crescimento da produção futura, mas à custa de manter milhões na miséria no momento presente. A vida presente da sociedade poderia se tornar um inferno de sofrimento, em função da imensa dívida social refletida nas carências de educação, saúde e assistência social.
Todo governo enfrenta aquilo que os economistas chamam de "tradeoff". Ou seja, para obter algo que desejamos temos de desistir de outra coisa que gostaríamos de ter. A primeira lição sobre tomada de decisões é que "nada é de graça". Como temos de enfrentar os "tradeoffs", que nos ensinam que a opção por fazer algo implica renunciar a outro algo que poderíamos obter com os mesmos recursos, o processo de tomada de decisões exige comparar os custos e benefícios dos vários cursos de ação. No caso do governo de uma nação, a escolha consiste em "distribuir" os recursos arrecadados entre investimentos e serviços sociais, sabendo que é preciso fazer as duas coisas. Na prática, não existe a opção de fazer apenas uma coisa ou apenas a outra.
O governo brasileiro optou claramente por elevar os gastos sociais para resgatar parte da dívida social. Mas, mesmo elevando esses gastos, em parte por conta do programa Bolsa-Família, o governo poderia fazer investimentos em infra-estrutura, e não o faz somente porque no passado o setor público endividou-se exageradamente e no presente as despesas de juros reduzem a condição de o setor público atuar nesse sentido. Somando a tudo isso o fato de o governo ter aumentado os gastos com a máquina administrativa, o resultado é que sobra muito pouco dinheiro para obras de infra-estrutura. Assim, o Brasil pode comprometer seriamente o crescimento futuro e agravar os problemas sociais em poucos anos. Se não houver crescimento da produção e a população seguir aumentando, as próximas décadas repetirão o círculo vicioso baixo investimento, baixo crescimento, desemprego, pobreza e assim por diante, sucessivamente.
O dilema do governante será menor quanto menos dinheiro for desperdiçado no aumento da burocracia estatal e do inchaço da máquina pública.