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Editorial

O drama sírio

As esperanças de solução ou mesmo de algum avanço em relação à crise síria se reduzem cada vez mais, à medida que a rodada de negociações entre o governo de Bashar Assad e a oposição, em Genebra, na Suíça, se aproxima do fim, marcado para os próximos dias. Desde antes do início, representantes de ambos os lados ameaçavam abandonar a conferência; a oposição quase conseguiu um pretexto quando o Irã foi convidado a participar das conversações (o convite foi retirado poucos dias antes da abertura da conferência); o governo Assad fez o mesmo já durante as negociações, quando o Congresso norte-americano aprovou o envio de ajuda aos rebeldes sírios.

Mesmo o que foi visto como um primeiro resultado das conversações para buscar uma solução negociada para a guerra civil na Síria talvez nem vire realidade. No fim de semana, o governo mostrou alguma disposição em permitir que mulheres e crianças deixem a cidade de Homs, que é um dos principais núcleos de resistência a Assad e está cercada pelas tropas do governo. No entanto, isso ainda não ocorreu, e nem tem data para ocorrer porque há impasses sobre questões como a saída de civis homens (o governo exige uma lista com nomes dos homens interessados em deixar a cidade) e o acesso de comboios humanitários à cidade, que tem sido bloqueado por Assad. "A delegação governamental me disse ontem [domingo] que havia um acordo para a saída de crianças e mulheres, mas continua discutindo como se deve fazer", havia dito na segunda-feira o enviado especial das Nações Unidas, Lakhdar Brahimi. Enquanto isso, os moradores de Homs estão se alimentando de grama, segundo a BBC.

Essa tinha sido apenas uma aparente primeira concessão em um diálogo cuja dificuldade era evidente até mesmo pela maneira como as negociações se davam em Genebra: os representantes do governo e da oposição pouquíssimas vezes conversaram frente a frente, preferindo mandar recados uns aos outros por meio de Brahimi. Além disso, os dois lados querem pontos de partida radicalmente diferentes, baseados em sua interpretação do Comunicado de Genebra, um documento redigido em 2012 e que trazia linhas gerais para pacificar a Síria. Enquanto o governo quer a implementação imediata do parágrafo que fala no fim do terrorismo – e, para Assad, "terrorismo" é qualquer contestação armada a seu regime –, a oposição insiste no que o documento chama de "governo de transição", o que indicaria a saída de Assad, hipótese que o governo rejeita veementemente.

E, ainda que se conseguisse algum entendimento em Genebra, uma coisa é a oposição política, e outra são as forças que resistem militarmente a Assad na Síria, boa parte delas ligada a grupos fundamentalistas muçulmanos, muitos dos quais até foram convidados para a conferência, mas se recusaram a participar. É justamente a alegada brutalidade desses grupos que garante a Assad o apoio de segmentos como o dos cristãos, que só seguem do lado do ditador porque consideram que a alternativa seria ainda pior.

No entanto, a crueldade de Assad já está mais que comprovada. A maior parte da comunidade internacional o responsabiliza pelos ataques com armas químicas que deixaram centenas de mortos – apesar da alegação do governo sírio e da Rússia de que a ação era obra de rebeldes numa tentativa de provocar a intervenção militar ocidental para depor Assad. Um desertor das forças de Assad entregou dezenas de milhares de fotos que indicam a existência de tortura e execuções nas prisões sírias (o governo alega que as imagens são falsas). Diante disso tudo, a melhor saída é a implementação do texto de 2012: a instauração, o quanto antes, de um governo de transição (sem a presença de Assad, embora representantes do atual governo devam integrar o gabinete), o cessar-fogo e a realização de eleições livres. Mas tudo indica que o governo só aceitaria esse cenário se Assad percebesse que não há outra alternativa. Com suas forças aparentemente vencendo os rebeldes, e sem a perspectiva de uma intervenção estrangeira, essa hipótese parece cada vez mais distante.

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