Afirmar que a economia mundial será atingida por efeitos de grande monta em decorrência da tragédia que acomete o Japão é dizer o óbvio. As consequências, porém, devem ser analisadas sob vários aspectos, em razão das diferentes formas com que a tragédia agirá sobre a economia e os mercados. Em um primeiro momento haverá consequências de curto prazo, muitas das quais já estão se fazendo sentir de forma rápida. Na sequência, haverá efeitos de longo prazo, que agravarão alguns dos problemas atuais e amenizarão aspectos da crise que o Japão vive há quase duas décadas.
Começando pelos efeitos de curto prazo, a primeira reação foi a queda nos preços das commodities agrícolas, ocasionada pela provável diminuição das importações japonesas. O Japão é grande comprador de produtos primários, sendo o maior importador mundial de milho, o terceiro maior comprador de soja e o quinto de trigo. Os preços desses produtos já caíram, com prejuízos à vista para os países exportadores, entre eles o Brasil. Com isso, a entrada de dólares de exportação será menor, o que pode provocar alguma desvalorização do real diante das moedas estrangeiras, fenômeno que traria consequências boas e ruins.
Como efeito positivo do aumento da taxa de câmbio, os exportadores que mantiverem suas vendas terão mais receitas em reais ao trocarem seus dólares obtidos no mercado externo. Outros setores que vinham deixando de exportar por causa de prejuízos na conversão cambial poderiam ser estimulados a voltar para o mercado internacional, evitando redução da produção interna ou, em alguns, até mesmo o fechamento de fábricas.
Como efeito negativo, o dólar mais caro provocaria elevação dos preços em reais dos produtos importados, cujo reflexo seria o aumento dos preços dos bens e serviços internos, ou seja, mais inflação. Apesar de esses efeitos poderem parecer óbvios, a situação não é nada simples e outros fenômenos podem causar mais confusão. O terremoto, o tsunami e a crise nuclear podem provocar diminuição do fluxo de recursos para o Brasil, tanto porque os investidores japoneses vinham se tornando grandes aplicadores em títulos de renda fixa em reais, como porque fundos estrangeiros podem realocar suas aplicações à espera dos desdobramentos.
Os japoneses vão precisar de recursos para financiar os custos de reconstrução de moradias, empresas e negócios, o que pode levar a uma onda de repatriação de capitais aplicados fora do país. Nesse caso, o Brasil certamente perderia parte dos recursos estrangeiros aplicados em ativos brasileiros, e essa seria mais uma razão para elevação do preço do dólar, agravando os efeitos derivados da queda nas receitas de exportações.
Outro conjunto de efeitos decorre do tamanho das perdas e dos custos de reconstrução do Japão. São efeitos de longo prazo. A economia japonesa vem sendo afetada por uma crise desde os anos noventa, pelo fato de que o país é grande poupador e os níveis de consumo das pessoas e do governo não são suficientes para sustentar o crescimento da produção. O resultado é o de sempre: fábricas ociosas, diminuição dos empregos e recessão. Ironicamente, a necessidade de reconstruir o país levará ao aumento na demanda por materiais, mão de obra, matérias-primas e materiais importados. Como exemplo, podem ser citados os casos do ferro e do aço, cujas importações terão de ser aumentadas, pois são produtos necessários em qualquer construção. Esse movimento pode ajudar na recuperação da economia japonesa.
A dificuldade maior reside em dimensionar com razoável grau de acerto cada um dos efeitos das variáveis envolvidas no problema. Por isso um balanço geral, tanto dos efeitos de curto prazo quanto dos resultados de longo prazo, torna-se um exercício de previsão com probabilidade de erro, com a agravante de que não se sabe qual será o comportamento do governo quanto ao plano de reconstrução nem qual rumo o acidente nuclear tomará.
Até o momento, as informações relacionadas à gravidade da radiação emanada das usinas acidentadas não permitem saber até onde essa tragédia irá. A possibilidade de um desastre nuclear de proporções jamais vistas existe e o mundo não sabe como lidar isso. Talvez o mundo nem tenha meios para enfrentar uma tragédia de tal magnitude. Um fato já constatado é a elevação dos preços internacionais do petróleo, cujo barril teve seu preço fixado em US$ 110 no mercado de Londres, uma semana após o terremoto japonês.
O Brasil não é importador de petróleo e pode não sofrer imediatamente as consequências da elevação do preço do produto. Mas, em algum momento, os preços da gasolina e do óleo acabarão subindo. No longo prazo a situação é diferente. Caso a produção brasileira ultrapasse o consumo interno, o país poderá se tornar exportador e se beneficiar dessa condição. Porém essa variável também é uma incógnita, sobretudo porque o petróleo do pré-sal é, por enquanto, mais promessa do que certeza. Se o problema nuclear for controlado, a tragédia japonesa seguirá o destino das demais crises vividas pela humanidade: graves consequências no curto prazo e recuperação no longo prazo, com mais produção, mais emprego e mais renda.
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