Uma pesquisa encomendada pela Gazeta do Povo, publicada na edição de domingo, mostrou que 90,6% dos entrevistados – estudantes curitibanos do 3.º ano do ensino médio –acreditam que a credibilidade do exame foi abalada. Dos pesquisados, 45% defendem que o exame seja refeito integralmente. Outros 18% acham que o melhor é que a prova seja simplesmente cancelada e esquecida, neste ano.

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A opinião dos estudantes é importante para que os graves problemas ocorridos com o Enem sejam avaliados. Problemas já ocorridos no ano passado e repetidos agora nesse último exame tiveram, entre outras, duas consequências: uma, mostrar a fragilidade e a incapacidade do governo em lidar com um exame gigantesco em todo o território nacional; outra, colocar na ordem do dia o que é esse exame e qual a sua utilidade. Os erros já aconteceram, os prejuízos para os estudantes e para os cofres públicos já foram contabilizados. Portanto, é hora de o governo saber tirar lições dos episódios e decidir o que fazer com o Enem.

A educação de base no Brasil se dá pela formação no ensino fundamental, durante oito anos, e no ensino médio, durante três anos. Nesses 11 anos, o aluno aprender a ler, a escrever, a contar, a raciocinar com lógica e adquire conhecimentos de História, Geografia e Ciências em geral. Assim, ele se prepara para a vida e para o aprendizado de uma profissão, sobretudo nos cursos universitários. A função do Enem, nesse processo, é avaliar o estudante ao final do ciclo de formação básica e avaliar, também, a qualidade do ensino ministrado durante os onze anos de escola.

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Esse exame foi implantado há pouco mais de uma década e a nota do estudante, que já era usada para classificar os beneficiados com bolsas do Prouni (programa que coloca alunos de baixa renda para estudarem gratuitamente nas instituições privadas), passou a ser usada mais recentemente para a disputa de uma vaga em curso superior. Assim, além de cumprir a função de avaliar o aluno e o ensino básico, o Enem tornou-se instrumento para selecionar alunos em vestibulares, seja como nota única ou como nota complementar às provas feitas por cada instituição isoladamente.

Países adiantados adotam exames destinados a avaliar a educação de base e os usam para selecionar alunos à educação superior. Nesse sentido, o Brasil não inventou nada, apenas seguiu uma prática já testada e considerada boa para a educação. Conhecida a utilidade desse exame, os erros e os problemas apresentados na aplicação do Enem não devem provocar a sua extinção. Ao contrário, o exame deve ser preservado, aperfeiçoa­­do e protegido contra erros e fraudes, pois sua utilidade para o sistema educacional é inegável. Resta, então, saber que causas estão levando o Enem a falhar repetidamente e, em seguida, eliminá-las definitivamente, a fim de que as falhas não voltem a ocorrer e para evitar que o exame seja desmoralizado totalmente.

Comparando com outros países, podemos avaliar as experiências já consolidadas. Uma delas é a descentralização do exame. No Brasil, a prova é nacional, realizada em bloco único em todo o território. Sendo o Brasil um país imenso e considerando que o Enem pode chegar a examinar até 5 milhões de estudantes, seria muito mais seguro e mais eficiente realizar o exame por regiões independentes e autônomas na sua execução. Cada estado da federação poderia ser uma região, ter comando próprio e operar com logística local. Eventuais erros ficariam restritos a uma região e não contaminariam o exame em todo o país.

A segunda característica a ser avaliada é o fato de o exame ser feito em momento único, fazendo com que milhares de alunos não compareçam e outros tantos compareçam com algum problema ocorrido em suas vidas no momento do exame. Entre 5 milhões de estudantes que venham a se inscrever para um exame numa data fixa, certamente milhares não estarão em condições naquela data, em razão de problemas com o próprio estudante, ou com familiares, suficientes para impedir o comparecimento às provas ou para tirar a condição psicológica de prestar o exame.

Nos Estados Unidos já existe a experiência de aplicação do exame várias vezes ao ano, dando chance ao estudante de realizar as provas quando ele estiver em condições físicas e psicológicas. Trata-se de seres humanos, portanto, vulneráveis a problemas de toda ordem que possam impedi-los de realizar as provas naquele dado momento.

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Até o ano passado, a experiência brasileira com tal exame foi positiva. É um processo que foi abraçado por dezenas de universidades pelo país, que usam o exame para complementar ou até substituir o vestibular. Entre elas, 59 universidades federais. A avaliação democratiza a entrada no ensino superior, é considerada uma proposta ousada e apoiada por educadores. O exame torna a seleção menos excludente, dá acesso a pessoas que não teriam como pagar uma faculdade, ou concorrer com estudantes que tiveram o ensino nas melhores escolas disponíveis. Por esses e demais motivos, não é possível pensar em acabar com o Enem.

Porém é imperioso que o Enem seja melhorado, que sua logística seja reformulada, que as falhas sejam abolidas e que sejam feitas inovações capazes de torná-lo mais eficiente para cumprir seus objetivos e mais justo na tarefa de aferir conhecimento e selecionar os estudantes para o curso superior.