A presidente Dilma reclama das taxas cobradas pelos bancos, mas o governo é mais parte do problema que da solução

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Desde meados dos anos 50 não houve um só presidente da República que não tenha reclamado dos juros altos no Brasil. Apesar disso, os juros jamais deixaram de ser altos – apesar de o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal terem atendido aos pedidos recentes da presidente Dilma Rousseff.

Mas nem toda taxa de juros é alta; é preciso colocar de um lado as taxas recebidas pelos poupadores em suas aplicações financeiras e, de outro, as taxas pagas pelos tomadores de empréstimos. A taxa de juros real para quem poupa (e sem poupança não há investimento) está muito longe de ser alta e, se essa taxa cair a ponto de aproximar-se de zero, desaparecerá qualquer estímulo à poupança e as pessoas ficarão com poucas opções para formar reservas para o futuro.

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Já as taxas pagas pelas pessoas e pelas empresas são muito altas. Quando a presidente Dilma grita contra os juros altos para os consumidores e para os empresários, ela tem razão quanto ao tamanho das taxas, não quanto a suas causas.

A questão é que um dos responsáveis pelas altas taxas cobradas pelos bancos nos empréstimos concedidos às pessoas e às empresas é o próprio governo. A formação da taxa de juros dos empréstimos bancários tem pelo menos cinco componentes. O primeiro é o custo de captação (quanto os bancos pagam aos poupadores). O que o governo não informa é que, nos países em que a taxa de juros anda próxima de zero, a inflação também anda próxima de zero. Já no Brasil, a inflação foi de 6,5% em 2011.

Os custos administrativos dos bancos são o segundo componente da taxa. O volume de empréstimos dos bancos brasileiros é muito baixo, quando comparado a sua estrutura física e ao número de empregados. O terceiro componente é a alta inadimplência dos devedores – os bancos reclamam que é muito difícil cobrar na Justiça os devedores inadimplentes e a solução, quando ocorre, é demorada demais. Em quarto lugar, a carga tributária sobre a intermediação financeira também é elevada. O governo ganha dinheiro com os altos juros, pois os impostos cobrados dos bancos são bem maiores que os cobrados pelos países desenvolvidos. Por fim, há o quinto elemento, que são os lucros dos bancos, também elevados. O sistema bancário brasileiro é muito concentrado e pouco concorrencial, e ai entram em jogo as leis de mercado; concorrência pouca, preços altos.

Em todo esse cenário, há um aspecto importante: o governo é o maior e mais voraz cliente dos bancos, e cada centavo poupado pela população tem, na outra ponta, o governo como tomador. Quando os bancos enchem seu caixa com dinheiro captado ou depositado pelos correntistas, eles têm três clientes: as pessoas, as empresas e o governo. Se algum banco terminasse o dia com excesso de dinheiro em caixa sem ter para quem emprestar, a única saída seria a redução da taxa de juros, da mesma forma que um feirante que não tenha para quem vender seus tomates não tem alternativa a não ser baixar os preços. Mas o governo tem dívida pública grande, é um cliente de risco zero e quer o máximo de dinheiro dos bancos. Assim, os consumidores e os empresários somente conseguem tomar empréstimos se pagarem mais pelo dinheiro.

Essa panorama remete a um ponto relevante: não há grande chance para a queda dos juros sem haver redução do déficit público. Não há muito espaço para reduzir a taxa de juros e o spread bancário se o governo não fizer sua parte, reduzindo o déficit nas três esferas. O ajuste fiscal e a redução do déficit público não são suficientes para jogar a taxa de juros para baixo, mas são condições necessárias. A bronca da presidente Dilma é boa para jogar luz nesse assunto e mostrar que a alta taxa de juros não vem do espaço, mas decorre de imperfeições do sistema de intermediação financeira, tendo o governo mais como parte do problema do que da solução.

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