Defender ou criticar o novo feriado do Dia da Consciência Negra é legítimo; o que não se pode é simplesmente rotular de "racistas" os que são contrários ao dia de folga

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O Conselho Municipal de Políticas Étnico-Raciais (Comper) de Curitiba iniciou, na sexta-feira, uma campanha de reação à ação judicial movida pela Associação Comercial do Paraná (ACP) que contesta a criação do feriado do Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro. Buscar o debate público sobre a criação do feriado é louvável, mas, quando se observa o nome da campanha, não parece ser exatamente esse o objetivo do movimento. Inicialmente chamada "Racismo não", a iniciativa recebeu o nome definitivo de "Diga não ao racismo e a todas as formas de discriminação".

O nome da campanha não chega nem a ser uma indireta – o objetivo é escancarado: jogar sobre todos os que se opõem à criação do feriado a pecha de racistas. "A reação da ACP é racista", disse, com todas as letras, o presidente do Comper, Saul Dorval da Silva, citado no site do vereador curitibano Jorge Bernardi. A afirmação é grave, e não apenas porque o movimento negro está acusando a ACP, o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Paraná (Sinduscon, que também é autor da ação) e os demais opositores do feriado de uma ação criminosa – afinal, o racismo é justamente considerado crime.

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Ao alegar que há motivações racistas na ação da ACP e do Sinduscon, o Comper simplesmente fecha a possibilidade de discussão. O interesse já não é debater a questão do feriado; é simplesmente ganhar o embate na base do rótulo, encarado como um "argumento" definitivo e irrefutável. Infelizmente muitas das discussões sobre políticas sociais e direitos das minorias no Brasil têm seguido este caminho, e adjetivos como "racista" ou "fascista" são usados e abusados para camuflar seja a falta de preparo para o debate, seja a própria intolerância a posicionamentos legítimos, embora contrários.

A verdade é que praticamente todos os argumentos econômicos e jurídicos que são usados pela ACP para contestar a instalação de mais um feriado em Curitiba serviriam igualmente para qualquer outra data que não fosse o Dia da Consciência Negra. A associação, por exemplo, afirma que cada dia parado representa um prejuízo de R$ 160 milhões para o comércio local. Em artigo publicado na Gazeta do Povo em 31 de dezembro de 2012, Saul Dorval afirmou que, em outras cidades nas quais o feriado de 20 de novembro foi implantado, a economia local cresceu de 2% a 4%. O Comper poderia, por exemplo, ter convidado a ACP para que as duas entidades apresentassem os estudos nos quais se baseiam, para chegar a uma conclusão a respeito do verdadeiro impacto da data sobre a economia curitibana. Mas, em vez disso, ao adotar a retórica vitimista, o movimento negro desrespeita a sociedade curitibana – que, aliás, em sua maioria também discorda da criação do feriado, conforme levantamento da Paraná Pesquisas divulgado pela Gazeta do Povo em 4 de fevereiro.

O racismo é uma chaga na sociedade brasileira, e não há dúvida de que precisa ser condenado e combatido. A cultura negra é digna de promoção, assim como as demais culturas que formaram a sociedade paranaense e brasileira – tanto a ACP quanto a maioria dos curitibanos concordam com a aprovação de uma data comemorativa em homenagem a Zumbi dos Palmares. Questionar a criação do respectivo feriado, no entanto, não implica o menor traço de racismo. Ninguém está pretendendo vedar aos negros direitos garantidos a outras etnias, ou considerá-los inferiores ou indignos. Associar a ação judicial da ACP e do Sinduscon à prática de racismo é uma tentativa de fazer prevalecer a opinião própria sem a necessidade de discutir o feriado. Saul Dorval alega que "esse tipo de posicionamento [a ação judicial] acaba manchando a imagem de Curitiba", mas na verdade a reação do movimento negro é que mancha a sua imagem perante os curitibanos. Ainda há tempo de deixar o vitimismo de lado e promover um debate adulto sobre o que é melhor para a cidade.