Mais uma vez o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, enfureceu a presidente Dilma Rousseff com suas declarações. No fim de fevereiro, o ministro chamou de “brincadeira” e “um negócio que era muito grosseiro” a desoneração da folha de pagamento para alguns setores, e que custava ao governo R$ 25 bilhões por ano. Naquela ocasião, a própria Dilma disse, para quem quisesse ouvir, que Levy “foi infeliz no uso do adjetivo”, e ele acabou fazendo um mea culpa. Na semana passada, em uma palestra realizada em São Paulo para ex-alunos da Universidade de Chicago, na qual o ministro também estudou, ele afirmou, em inglês, que a presidente tem um “desejo genuíno” de acertar, mas “não da maneira mais fácil, não da maneira mais efetiva”.
Curiosamente, agora a reação presidencial, pelo menos em público, foi diferente. “Tenho discernimento, tenho clareza de que ele foi mal interpretado”, disse Dilma durante viagem ao Pará. Mas, nos bastidores, interlocutores do Planalto dizem que a presidente ficou, sim, irritada com o comentário, e escalou o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, para dar uma bronca privada em Levy. O que mudou no espaço de um mês para que a repreensão ocorresse por baixo dos panos, e não em público?
Levy, sabe-se muito bem, é antes de mais nada um técnico; por mais que ele já tivesse ocupado cargos no governo no passado, faltam-lhe o traquejo político e o instinto de sobrevivência que permitem às “raposas” de Brasília permanecer décadas no poder. Também sabe-se que as medidas desenhadas pelo ministro e adotadas pelo governo, embora necessárias para consertar anos de irresponsabilidade governamental, não são exatamente o sonho de Dilma – que durante a campanha criticava tudo aquilo que está colocando em prática agora – e, ainda por cima, enfurecem seu próprio partido, o PT.
Para complicar a missão de Levy, ele ainda precisa lidar pessoalmente com o Congresso, dada a incapacidade tanto da própria presidente da República quanto dos ministros encarregados da articulação política
Mas o governo provavelmente está percebendo que a credibilidade do país depende cada vez mais de seu ministro da Fazenda. Na semana passada, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s divulgou seu relatório em que manteve a nota do Brasil – que ainda tem “grau de investimento”, mas está a apenas um passo de perder esse status. No texto, a agência cita o apoio de Dilma ao ajuste fiscal, mas o verdadeiro fiel da balança é o próprio Levy. É nele, e não tanto em Dilma, que o mercado nacional e internacional confia para reverter o cenário difícil pelo qual o Brasil já passa e que, a julgar pelas estimativas do Boletim Focus, pode piorar em 2015, com PIB em queda e inflação em alta.
E uma das razões para que o mercado tenha dificuldades para confiar em Dilma se mostrou mais uma vez no episódio da palestra do ministro. A presidente tem enormes dificuldades para admitir seus erros, passados e presentes. Ela preferiu adotar a retórica do “ele foi mal interpretado” (em público, já que, em particular, enfureceu-se com o comentário) a aceitar que, de fato, fez escolhas equivocadas na política econômica de seu primeiro mandato. É verdade que a própria nomeação de Levy para a Fazenda é um meio de, implicitamente, reconhecer os erros. Mas a postura arrogante de Dilma, ao seguir defendendo publicamente tudo o que foi feito desde 2011 até agora, faz pouco para ajudar o ministro em sua tarefa.
Para complicar a missão de Levy, ele ainda precisa lidar pessoalmente com o Congresso, dada a incapacidade tanto da própria presidente da República quanto dos ministros encarregados da articulação política em construir um consenso que permita aos parlamentares aprovar o ajuste fiscal sem maiores sobressaltos. Jogado no meio de uma arena em que Dilma mede forças com os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, Levy até conseguiu alguns êxitos para o governo, como no caso do reajuste da tabela do Imposto de Renda e, pelo menos temporariamente, em relação ao indexador da dívida de estados e municípios. Ele ainda precisará de muita sagacidade para que outros interesses não acabem fazendo o ajuste naufragar.
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