Em 2010, o IBGE fez o recenseamento da década usando modernas tecnologias de computação. O banco de dados que resultou do trabalho contém um rico conjunto de informações sobre o Brasil, bem melhor do que os censos anteriores, que permite compreender o país, seus problemas e suas vantagens. Com base nesse banco de dados, os economistas Fabio Giambiagi e Claudio Porto coordenaram a elaboração do livro 2022 – Propostas para Um Brasil Melhor no Ano do Bicentenário, no qual traçam um panorama sobre a situação do país quando completar dois séculos de sua independência.

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Nos 12 anos que vão do censo até 2022, talvez a mais profunda modificação esteja na pirâmide demográfica brasileira. A população de crianças na faixa dos 5 aos 14 anos diminuirá em 6,5 milhões (de 34,1 milhões para 27,6 milhões), enquanto a população com idade de 60 anos ou mais aumentará em 11,4 milhões de pessoas (de 19,3 milhões para 30,7 milhões). Essa mudança sozinha levará a profundas modificações na vida econômica e social do Brasil, e os governantes precisam saber como lidar agora com tal fenômeno, pois faltam somente oito anos para 2022.

Embora o Brasil tenha problemas econômicos conjunturais de curto prazo – o que é normal em qualquer governo, já que não existe a gestão pública perfeita –, os fundamentos macroeconômicos estruturais não são ruins e dão condições de melhorias substanciais na economia e no padrão de bem-estar social médio. Ainda carente de aperfeiçoamentos, as instituições brasileiras estão funcionando, e a estabilidade política conquistada após a redemocratização é considerada boa, bem melhor que a média dos vizinhos da América do Sul.

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Nos dados do IBGE, dois problemas se apresentam entre os mais preocupantes: o tamanho da população de pobres (20% do total de habitantes, em torno de 38 milhões de pessoas à época) e o número dos considerados extremamente pobres (7% da população, ou seja, em torno de 13,3 milhões). Segundo o plano de governo da presidente Dilma, um dos objetivos é tirar das estatísticas a faixa dos extremamente pobres, pela melhoria da renda e do emprego, e reduzir de 20% para 5% da população os classificados como pobres.

O objetivo de superar a pobreza transcende o governo atual e é suprapartidário. Os governantes dos próximos dez anos devem cuidar para ter essa prioridade em seu plano de governo, pois se trata de uma exigência do interesse de toda a sociedade. A questão principal é descobrir quais os obstáculos principais na caminhada do país rumo ao crescimento econômico, ao desenvolvimento social e à superação da pobreza. Neste ponto reside o principal tema do debate a respeito de um projeto nacional para o Brasil do futuro.

O país tem vários problemas, mas os dois mais relevantes são a infraestrutura física e a educação. A recuperação e a ampliação da infraestrutura é condição necessária – embora, sozinha, não seja suficiente – para permitir o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), a elevação da renda por habitante e a melhoria na distribuição da renda nacional. Sem elevação do PIB e considerando que a população seguirá aumentando, é difícil obter êxito na melhoria social e na erradicação da miséria e da pobreza.

Quanto à educação, as melhorias necessárias são muitas e urgentes. O país precisa elevar o nível da educação básica, ampliar o número de trabalhadores com acesso ao aperfeiçoamento profissional e elevar os indicadores que medem o grau da qualidade educacional. Esses objetivos não serão possíveis sem forte ampliação dos gastos públicos com educação, razão por que é preciso melhorar o direcionamento do gasto governamental.

A tarefa não é fácil e alguns pontos devem ser combatidos imediatamente, entre os quais estão a redução do déficit dos sistemas de previdência social e a redução da carga de juros sobre a dívida pública. Os futuros governantes – prefeitos, governadores e presidentes – terão enormes desafios na gestão financeira do setor público brasileiro, sobretudo porque não há mais espaço para melhorar as contas fiscais pelo aumento da tributação, cuja carga chegou ao limite; aumentos de impostos prejudicariam seriamente o crescimento do PIB.

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Não há saída fácil nem simplista, mas o país tem condições de superar os obstáculos, desde que os dirigentes revelem competência à altura da magnitude da tarefa.

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