Desde ontem, a economia brasileira tem um novo condutor, o economista Guido Mantega, empossado como ministro da Fazenda no lugar do defenestrado Antônio Palocci. A troca de comando traz apreensões em relação ao futuro, dadas as conhecidas divergências de opinião entre um e outro quanto às alternativas de política econômica mais adequadas e à proximidade das eleições presidenciais.

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Os elogios mútuos e as promessas de que nada mudará soam como meramente retóricos, como uma tentativa de acalmar os mercados e de mostrar a existência de sólida unidade interna no governo, atributos certamente imprescindíveis para a manutenção da confiança geral. Mas, para os observadores mais atentos da atual crítica conjuntura nacional, não deixa de ser preocupante a influência que terão sobre os rumos da economia e da política os mais recentes abalos políticos e éticos que assolaram o país.

Mantega assumiu dizendo-se comprometido com o atual modelo econômico. A tradução literal é, então, a seguinte: o novo ministro se mostra publicamente disposto a manter o tripé em que se assenta o modelo – juros altos, câmbio flutuante e superávit primário alto.

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O tripé, sem dúvida muito eficaz para garantir a estabilidade monetária, agrada a muitos setores, especialmente aos bancos e a todos os demais investidores nos papéis da dívida brasileira, altamente rentáveis e extremamente seguros. Tal ambiente é, de fato, muito propício a todo tipo de especulação financeira e explica o grau de confiança alcançado pelo Brasil nos mercados mundiais, conforme assinala claramente o atual patamar do risco-país.

Por outro lado, o mesmo tripé é responsável pelo insuficiente crescimento da economia e pela pesada crise por que atravessam outros setores, exatamente os que produzem riqueza e empregos. Juros altos atraem dólares especulativos e, por esse motivo, a moeda-padrão internacional se desvaloriza, prejudicando as exportações e abrindo as portas para a concorrência estrangeira. Por conta disso, a agronegócio amarga uma das piores crises de sua história, ao mesmo tempo em que a indústria nacional sofre intenso processo de fuga. Logo, há também muita gente insatisfeita com o modelo.

A conjuntura de 2006, no entanto, não deve ser vista apenas sob o ponto de vista exclusivo do desempenho econômico, mas da delicada conjunção deste com aspectos políticos importantes, nos quais se incluem os vergonhosos desvios éticos no seio do governo. É sob esse clima que se desenrolará a campanha presidencial deste ano.

De um lado, Lula, candidato à reeleição, sofrendo sangria no seu patrimônio de votos em razão do desgaste moral do seu governo e criticado pelo baixo crescimento resultante da política econômica que empreendeu. De outro, o governador Geraldo Alckmin, identificado com os setores insatisfeitos e gozando de alto conceito como gestor público voltado para a promoção do desenvolvimento.

É esse quadro que poderá influenciar o novo ministro, com franco aval do Presidente, a flexibilizar a conduta do governo. Na ânsia de reconquistar os eleitores perdidos, os juros poderão baixar mais rapidamente do que a prudência recomenda e os gastos do governo poderão se ampliados mais do que o equilíbrio fiscal agüenta.

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Com certeza, essa mudança vai agradar a muita gente, e as pesquisas eleitorais talvez sorriam para o candidato Lula. Resta saber, contudo, se será uma atitude responsável.