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Editorial

O impacto da crise no Oriente Médio

Plataforma de petróleo no Golfo Pérsico/Irã (Foto: Ali Mohammadi/Bloomberg)

Entre os fatores que levam ao aumento da confiança dos empresários nacionais e dos investidores estrangeiros na economia brasileira destacam-se as linhas mestras do programa macroeconômico a cargo do Ministério da Economia, o equilíbrio das contas públicas, a situação do balanço das contas externas, o controle da inflação, o marco regulatório do investimento estrangeiro, a expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e a estabilidade política. Há outros fatores de natureza econômica, política e social que, por sua importância, exercem influência na tomada de decisões dos empreendedores nacionais e internacionais, mas, sem avaliação favorável quanto àqueles fatores destacados, não há estímulo para o aumento dos investimentos em negócios e atividades empresariais no território nacional.

Independentemente das questões político-partidárias e da dicotomia eleitoral, o ano que se inicia tem despertado otimismo e recebendo avaliação positiva, sobretudo pelas expectativas quanto ao crescimento do PIB, baixa inflação, redução da taxa de juros, boa situação das contas externas, aprovação da reforma da Previdência e, de resto, pelo programa anunciado pelo ministro Paulo Guedes dentro da agenda econômica para 2020. O cenário otimista está correlacionado principalmente com os fatores internos do Brasil; logo, trata-se da capacidade a ser demonstrada pela nação brasileira, governo e sociedade, de executar um roteiro de ações, programas, políticas e reformas favoráveis ao crescimento econômico e ao desenvolvimento social.

Infelizmente, o Brasil tem a mania de criar problemas internos quando o mundo vai bem, e o azar de ser afetado por crises internacionais quando começa a administrar melhor a economia interna

Entretanto, o mundo presencia graves eventos políticos, cujo desenrolar não é fácil prever. O primeiro evento, que continua se desenrolando, diz respeito ao aumento das tensões no Oriente Médio, especialmente após o ataque feito pelos Estados Unidos que culminou com a morte do general iraniano Qasem Soleimani, comandante das Forças Quds, da Guarda Revolucionária, e considerado o mais importante líder militar do Irã – mas que, segundo Donald Trump, é responsável pelo assassinato de vários civis e soldados norte-americanos. Além dele, outro importante líder militar foi morto: o iraquiano Abu Mahdi al-Muhandis, comandante das Forças de Mobilização Popular do Iraque, coalizão de milícias apoiada pelo Irã.

Como seria previsível, o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, anunciou retaliações duras e severas, prenunciando sério agravamento dos problemas já existentes e outros decorrentes de ações que venham a ser executadas. Efeitos sobre o mercado global de petróleo já começaram, como o rápido aumento do preço no mercado internacional e as pressões para elevação dos preços internos dos combustíveis, com o potencial de pressão altista sobre os índices de inflação, justamente quando vinha se firmando a convicção, entre as autoridades de Brasília e os analistas de mercado, que a inflação brasileira não passaria dos 3,6% em 2020, novamente abaixo da meta do Banco Central.

A crise política e os movimentos no mercado internacional de petróleo, combinados com o aumento da taxa de câmbio, têm potencial para fragilizar as previsões sobre a inflação de 2020 e, por efeito colateral, a estimativa para o aumento do PIB e para o crescimento do nível de emprego. Quanto maior a taxa de câmbio, mais caros ficam os produtos importados avaliados na moeda nacional. Um exemplo sintomático é o caso do trigo, cujo consumo nacional é suprido por importações em 50%. Por ser produto de consumo geral e popular, o trigo, bem como seus derivados, tem peso importante no cálculo da inflação. Havendo simultaneamente elevação do preço do petróleo e aumento do preço do dólar, a pressão sobre a inflação torna-se muito forte e, mesmo com o resto da economia seguindo bem, cria-se aí uma fissura na estrutura da política econômica – logo, também na confiança e nos negócios.

Mesmo com a economia brasileira tendo, ainda, um baixo grau de abertura internacional, a julgar pelo coeficiente de exportações e importações como proporção do PIB, a relevância da crise no Oriente Médio e a incerteza quanto as dimensões que ela pode tomar são fatores negativos, justamente quando o Brasil começa a sair da recessão e a tentar crescimento do PIB acima de 2% ou 2,5%. Embora ainda pequeno diante do crescimento populacional e da baixa renda por habitante, este crescimento estimado atua como elemento essencial na superação da recessão ocorrida em 2015 e 2016. Infelizmente, o Brasil tem a mania de criar problemas internos e má gestão econômica quando o mundo vai bem, e o azar de ser afetado por crises internacionais quando começa a administrar melhor a macreconomia interna. Este ano de 2020 prenuncia bom desempenho interno, mas começa com problemas mundiais cujo agravamento gera mais dúvida que certeza.

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