O presidente do Senado Federal, Renan Calheiros, reuniu os líderes partidários e com eles acertou o calendário de atividades que a Casa cumprirá até o fim deste ano. Coisa bem feita e ajustada às excepcionais circunstâncias de 2014, ano de Copa do Mundo e de eleições gerais. Considerados esses fatores, os senadores estarão dispensados de comparecer a 72% dos dias que faltam para o ano acabar. O presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), senador Vital do Rego, justificou a adoção do calendário com uma frase que muitos podem entender como uma piada: "Isso é para que a sociedade veja que o Congresso está trabalhando". Renan se saiu com outra anedota para explicar o encurtamento das jornadas senatoriais: o ano está tomado por "eventos internacionais", disse ele.
O calendário "calheiriano" é muito menor que o gregoriano. Em vez dos 365 dias distribuídos em 12 meses e 52 semanas, a que se submetem todos os trabalhadores do mundo ocidental, da folhinha do Senado não constam como dias de trabalho aqueles em que, por exemplo, há jogos da seleção brasileira e de outras equipes admiradas pelas torcidas; assim como foram suprimidos também os dois meses que antecedem as eleições de outubro período que os parlamentares poderão aproveitar para se dedicar às próprias campanhas de reeleição ou de correligionários nas respectivas "bases", como costumam se referir aos currais de onde colhem votos.
O calendário gregoriano, no entanto, será religiosamente cumprido em relação aos pagamentos dos salários e dos penduricalhos que adornam seus holerites. Assim como também não prevê reduções nas despesas de seus gabinetes, incluindo as representadas pelos servidores que têm à disposição seja em Brasília, seja alhures. Para efeito das atividades do Senado, também não se contam o recesso de julho, os dias completos da Semana Santa, os feriados e feriadões, o durante e o depois do carnaval, as segundas e as sextas-feiras nesses mesmos dias e semanas a absoluta maioria dos contribuintes estará trabalhando e recolhendo os tributos que sustentam regiamente o parlamento.
Mas nem só de folgas viverão os senadores neste buliçoso 2014. Eles serão convocados a trabalhar durante duas estafantes semanas em agosto e setembro (uma em cada mês, logicamente), durante as quais certamente com tempo tão suficiente poderão deliberar sobre matérias importantes, capazes de traçar novos rumos para o desenvolvimento econômico e social do país.
Não há ironia que baste para tratar deste assunto embora fosse ele mais motivo de tristeza e de santa indignação. Trata-se, o calendário "calheiriano", de mais uma daquelas atitudes dos nossos políticos e governantes a se constituir em vergonha e revolta para os cidadãos de bem, trabalhadores, eleitores e contribuintes, que nelas encontram alimento para irem às ruas. Só os políticos parecem não compreender a realidade e as causas do próprio descrédito.
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