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Editorial

O IPCA de agosto e a próxima decisão do Copom

Aumento na energia elétrica puxou a inflação de agosto. (Foto: Unsplash)

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Quem espera uma redução sustentável dos juros, com base em análises sólidas e não em gritaria de políticos populistas, teve uma boa notícia na última terça-feira, quando o IBGE divulgou os números da inflação oficial de agosto. O IPCA fechou o mês ligeiramente abaixo das expectativas do mercado, em 0,23%. O acumulado dos últimos 12 meses subiu para 4,61%; a alta era esperada, já que o índice de agosto substituiria uma deflação de 0,36% verificada no mesmo mês de 2022, mas o número ainda está dentro do limite máximo de tolerância da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional. E é na hora de destrinchar os números, analisando os setores, que aparecem elementos de interesse para o Copom, que se reúne em poucos dias.

Hoje, já se sabe que as inflações dos meses anteriores estavam “maquiadas”. Não porque o IBGE estivesse manipulando algum número, mas porque a Petrobras estava represando artificialmente os preços dos combustíveis enquanto os custos internacionais subiam, absorvendo o prejuízo em nome do populismo tarifário petista. Havia uma preocupação justificada sobre o efeito do forte reajuste no preço praticado nas refinarias, anunciado na segunda quinzena de agosto, já que a gasolina é o item isolado com maior peso no cálculo do IPCA. No entanto, o aumento ao consumidor medido pelo IBGE ficou em 1,24% para a gasolina e 8,54% no diesel. O que realmente elevou a inflação em agosto foi a conta de energia elétrica, que subiu 4,59% e respondeu por 0,18 ponto porcentual, graças ao fim do bônus de Itaipu.

O Copom tem se pautado pela análise técnica, resistindo às pressões de Lula e do PT por cortes da Selic antes da hora e em intensidades para as quais não havia suficiente embasamento

O peso da energia elétrica no IPCA de agosto é reflexo de uma tendência mais ampla: são os preços administrados – aqueles definidos pelo poder público ou cujos reajustes obedecem a contratos – os que estão puxando a inflação para cima nos últimos meses. No acumulado de 12 meses, essa categoria de itens tem aumento de 7,69%, bem acima do IPCA geral. Por outro lado, a inflação de serviços, que durante muito tempo foi motivo de preocupação, está convergindo para o índice geral. Com elevação de apenas 0,08% em agosto, a inflação de serviços está em 5,43% no acumulado de 12 meses.

A inflação de serviços é acompanhada com especial atenção pelo Copom, merecendo diversas menções na ata da última reunião. “Uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada” é citada como “risco de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação”; caso os preços neste setor estejam passando por um processo de normalização, haveria uma preocupação a menos para os diretores do Banco Central no momento de definir as próximas etapas do processo de afrouxamento monetário iniciado na última reunião. Não à toa analistas e instituições do mercado financeiro voltaram a falar na possibilidade de um corte de 0,75 ponto porcentual na Selic em alguma das reuniões do Copom ainda por realizar neste ano.

O comportamento do Copom ao longo de 2023 mostra que o comitê tem se pautado pela análise técnica, resistindo às pressões de Lula e do PT por cortes antes da hora e em intensidades para as quais não havia suficiente embasamento. Foi essa postura que ajudou a frear a inflação, e não há motivo para abandoná-la agora. Os membros do comitê não têm apenas o IPCA para monitorar: é preciso acompanhar também desde as movimentações de Executivo e Legislativo que tenham efeito sobre as contas públicas até as decisões do Fed norte-americano, já que a diferença das taxas de juros brasileira e norte-americana é fator que atrai ou espanta dólares, influenciando o câmbio e, consequentemente, a própria inflação brasileira.

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