O ano político está começando, com o acirramento das preliminares do jogo eleitoral, a votação de regras moralizadoras da campanha e a disposição dos contendores em campo. Mas, enquanto as cúpulas partidárias retardam a confirmação dos candidatos majoritários, alguns diretórios e parlamentares pressionam pela definição urgente dessas candidaturas puxadoras de votos, nas chapas que se apresentarão no pleito de outubro próximo.
A propósito, as eleições estão às portas, a uma distância de menos de sete meses e os pré-candidatos a vagas proporcionais estão ansiosos por definições como declarou um deputado tucano a este jornal. Afinal, a campanha curta, tendência copiada de europeus e americanos, ainda não foi absorvida pela realidade brasileira. Líderes experientes advertem para o risco de o candidato perder já na largada, se ficar sem calendário para visitar os centros populacionais, não apertar a mão de chefes regionais e formadores de opinião, não participar de encontros em cidades-chave e assim por diante.
No panorama geral, apesar de o desempenho do país no ano passado não ter sido espetacular, o governo federal se prepara para extrair dividendos eleitorais dos resultados obtidos, num movimento que poderá ter sucesso na medida em que a crise política for sendo superada pelo tempo. Não tendo a oposição, até aqui, conseguido associar a pessoa do presidente da República ao escândalo do "mensalão", o Palácio do Planalto pode servir à opinião pública situações concretas, desde o controle da inflação, quitação da dívida com o FMI até a queda do desemprego e melhoria da renda do trabalhador.
São indicadores que significam a retomada, lenta porém consistente, embora esse baixo crescimento incomode o empresariado e setores mais informados, como se observou durante o Fórum Econômico Mundial. De fato, com a ênfase em superávits fiscais, juros elevados e pagamento de dívidas, o Brasil cresceu apenas 2,2%, deixando a média do atual governo pouco acima da do ciclo FHC. Não obstante, mesmo com baixo crescimento o real forte é boa estratégia em ano eleitoral: a estabilização de preços passa uma sensação favorável para o consumidor segundo a Fundação Getúlio Vargas.
No caso, informa-se que o presidente Lula deverá se valer de comparação com o governo anterior para afirmar que "fez mais"; e o instituto da reeleição confere vantagem natural ao titular do cargo executivo, que pode concorrer no exercício da função. À oposição caberá mostrar pontos frágeis na gestão petista, além de convencer o eleitorado de que o mandato em disputa se refere ao futuro; o passado já foi julgado e não está em questão.
Mário Vargas Llosa, ao perder a corrida presidencial para Alberto Fujimori no Peru, fez a observação amarga de que, numa campanha eleitoral, "a ficção muitas vezes derrota a realidade". Apesar disso a própria temporada de eleições realimenta a confiança na democracia, ao colocar perante o cidadão a opção de sustentar ou substituir a liderança presente.
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