Muitos brasileiros sonham em comprar uma casa na praia para levar ali uma vida mais tranquila quando se aposentarem, longe da agitação dos grandes centros urbanos. Mas é preciso que a cidade escolhida tenha, no mínimo, infraestrutura básica e muita segurança para que o sonho se torne realidade. Infelizmente, o litoral paranaense parece não ser o local mais adequado para quem deseja sossego na velhice.

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O assassinato da psicóloga Telma Fontoura, ocorrido neste fim de semana na praia de Shan­­gri-lá, é mais um dos tristes motivos que fazem com que o paranaense tenha perdido a vontade de frequentar o litoral do estado, principalmente, quando não é verão. Isso ocorre porque, ali, existem duas realidades completamente dis­­tintas: uma durante os cerca de três me­­ses da temporada e outra, que, infelizmente, du­­ra os outros nove meses do ano.

Matéria publicada ontem pela Gazeta do Povo mostra que um dos fatores para o au­­mento da violência no litoral é o efetivo policial reduzido fora da temporada. O presidente da Associação de Bares, Hotéis e Restaurantes do litoral, José Carlos Chicarelli, disse em entrevista ao jornal que "quando acaba a Operação Verão a queda no número de policiais é gran­­de". Segundo ele, há uma enorme cobrança da comunidade nesse sentido, mas, pelo o que aconteceu com a professora na tarde deste do­­mingo, os pedidos têm sido ignorados. Nú­­me­­ros da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp) comprovam a tese de que quanto menor o número de policiais, maior a violência. So­men­­te no primeiro trimestre deste ano, houve aumento de 73% no número de homicídios dolosos (em que há intenção de matar) em relação ao mesmo período do ano passado. Essa taxa foi superior à de Curitiba (54%) e das cidades do interior do Paraná (30%).

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E os problemas do litoral não se resumem à insegurança. A ampliação da faixa de areia para conter o avanço do mar é uma reivindicação antiga de moradores e comerciantes de Matinhos, e está sendo discutida há pelo menos 20 anos. R$ 22 milhões já foram empenhados para a obra, sendo R$ 11 milhões vindos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, e R$ 11 milhões do governo do estado. No entanto, a obra não deve ficar pronta antes de 2012.

A praia de Guaratuba sofre do mesmo problema, mas o horizonte é ainda pior: o mar continua avançando e a prefeitura da cidade precisa, diariamente, descarregar pedras e sacos de areia em um trecho da Praia Central para conter a fúria do mar. Como ainda não foi feito o Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima), não há nenhuma previsão de mudanças pelo menos pelos próximos dois anos.

Uma esperança surgiu quando o governador do estado, Orlando Pessuti (PMDB), assumiu o cargo em abril. Na ocasião, ele prometeu um pacote de 12 obras esperadas há décadas pela população do litoral, entre elas, a construção de uma ponte sobre a Baía de Guaratuba e a duplicação das três principais rodovias estaduais que fazem a ligação entre os balneários e entre Curitiba e as praias. Até agora existe apenas a promessa, e o mandato dele termina em dezembro.

Além de sofrerem com todos esses problemas de infraestrutura, os proprietários de imóveis no litoral se surpreenderam ainda, neste ano, com o aumento atípico da taxa de IPTU, que subiu mais do que o índice da inflação IPCA, o que causou grande revolta. O motivo vai além da quantia a ser paga, pois tanto moradores quanto veranistas desembolsam valores muito acima dos benefícios que recebem em troca.

Esses problemas revelam que, temporada vai, temporada vem, mudam-se os governantes, mas o litoral permanece abandonado. Ele só volta a receber atenção do poder público na temporada, quando a população cresce exponencialmente. Em ano eleitoral, está na hora de a população litorânea cobrar medidas concretas dos governantes para que as praias paranaenses não permaneçam esquecidas o ano todo e só sejam lembradas quando o calor chega.

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