Foram necessários poucos anos de uma administração responsável para que a Petrobras começasse a reverter o enorme estrago feito pelo lulopetismo. Ficaram para trás os anos de rapinagem, de desastrosas decisões de negócio e da manipulação eleitoreira dos preços do combustível, entraram o respeito à dinâmica de mercado e um redirecionamento no foco da estatal, com um ambicioso programa de desinvestimento. Esse processo de reconstrução, iniciado em 2016, no governo de Michel Temer, e mantido na gestão de Jair Bolsonaro, não deixou de ter seus percalços, mas começou a mostrar resultado em 2018, quando a Petrobras registrou lucro de R$ 25,8 bilhões após quatro anos seguidos no vermelho. O balanço de 2019 veio ainda melhor: lucro de R$ 40,1 bilhões, 55,7% maior que o do ano anterior e valor nominal recorde para empresas brasileiras de capital aberto.
O número foi conseguido, principalmente, graças ao programa de desinvestimento e ao crescimento da produção de petróleo e gás, combinado com uma redução nos custos de produção. As vendas de subsidiárias foram, enfim, liberadas pelo Supremo Tribunal Federal em 2019 – a única parte correta da decisão que engessou as demais privatizações, condicionando-as ao aval do Congresso –, o que permitiu à Petrobras levantar US$ 16,3 bilhões ao se desfazer de empresas como a BR Distribuidora e a TAG. Além disso, a produção de petróleo e gás superou os 3 milhões de barris por dia e o custo médio de extração caiu para US$ 6,5 por barril no fim de 2019, 31% menos que no início de 2018 – o petróleo do pré-sal tem custos ainda menores que a média. Esses fatores ajudaram a compensar a queda no preço global do petróleo e outras despesas financeiras que pesaram sobre o desempenho da estatal.
Ficaram para trás os anos de rapinagem, de desastrosas decisões de negócio e da manipulação eleitoreira dos preços do combustível
Estas três tendências – enxugamento da empresa, maior produção e custos menores – devem se manter no curto prazo. A empresa pretende vender, em 2020, oito de suas 13 refinarias, e o presidente Roberto Castello Branco disse, na teleconferência de anúncio dos resultados, que há interessados em todas as unidades. “O Brasil tem de se ver livre dessa situação quase única no mundo, uma única empresa ser dona de todo o refino”, afirmou. No entanto, a privatização não ocorrerá sem oposição feroz. No início de fevereiro, os petroleiros iniciaram uma greve – já considerada ilegal e abusiva pela Justiça do Trabalho – motivada pela “hibernação” (suspensão das atividades) da Araucária Nitrogenados, no Paraná, e a demissão de seus funcionários; a unidade vem tendo prejuízos recorrentes desde sua aquisição em 2013, segundo a Petrobras. O movimento também serve como protesto contra as futuras privatizações, e o seu desfecho indicará se a estatal terá mais ou menos facilidade para seguir em frente com o programa de desinvestimento.
Além das dificuldades políticas decorrentes de sua decisão de enxugar sua estrutura, a Petrobras continua a lidar com as consequências da irresponsabilidade praticada durante os governos petistas. “A Petrobras continua a ser uma das companhias de petróleo mais endividadas do mundo, com dívida bruta de US$ 87,1 bilhões, alavancagem acima do recomendável para uma empresa de petróleo e custos elevados”, escreveu Castello Branco em sua carta aos acionistas. A dívida líquida, de US$ 78,8 bilhões, subiu em 2019 graças ao pagamento do bônus do megaleilão do pré-sal, realizado no fim do ano passado. Reduzir este endividamento será tarefa árdua, que só poderá ser bem-sucedida se a administração atual mantiver o curso.
Independentemente de quaisquer convicções sobre o futuro da empresa – permanecer estatal ou eventualmente ser privatizada, o que dependeria de aprovação do Congresso – este início de recuperação da Petrobras é extremamente positivo. Como afirmou Castello Branco em julho do ano passado, quando esteve em Curitiba para receber R$ 424 milhões recuperados pela Lava Jato, a operação “salvou a Petrobras de se transformar numa PDVSA”, em referência à estatal venezuelana de petróleo. O executivo não exagera: a destruição daquela empresa (e de todo um país) realizada pelo chavismo, com apoio incondicional do petismo, apesar de a Venezuela ter as maiores reservas mundiais da commodity, mostra muito bem o que poderia ter ocorrido com a Petrobras se ela continuasse a ser corroída pela corrupção, por interferências populistas e por decisões absurdas.
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