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Editorial

O Mais Médicos sem os cubanos

 | Marcelo Andrade/Arquivo Gazeta do Povo
(Foto: Marcelo Andrade/Arquivo Gazeta do Povo)

Em uma demonstração de quem é o verdadeiro responsável pela saída dos médicos cubanos do programa Mais Médicos, a ditadura caribenha já começou a retirar do Brasil os seus cerca de 8,5 mil profissionais. Uma decisão tomada com base apenas em declarações do presidente eleito, Jair Bolsonaro, que ainda nem assumiu para mostrar se realmente colocaria em prática as medidas que havia prometido – submeter os médicos ao Revalida, o exame exigido de todos os demais profissionais formados no exterior, inclusive brasileiros, para torna-los aptos ao exercício da medicina no Brasil; e pagar aos cubanos o valor integral que é entregue aos demais participantes do Mais Médicos, acabando com a hedionda triangulação na qual os ditadores, em Havana, ficam com a maior parte do salário, tecnicamente considerado uma “bolsa”.

Essa saída tão abrupta, comunicada pela própria embaixada cubana no Brasil ao Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems), além de levantar uma série de suspeitas sobre a própria qualificação profissional dos médicos, tem um objetivo bastante claro: causar um colapso nos serviços de saúde daquelas localidades onde os cubanos são os únicos médicos a atuar, ou são a maioria da força de trabalho responsável pelo atendimento à população. A insatisfação seria capitalizada pela esquerda brasileira, aliada de Cuba, para desgastar Bolsonaro antes mesmo de sua posse. Isso fica claro na nota do governo cubano em que comunicou a saída do Mais Médicos: “O povo brasileiro (...) poderá entender sobre quem recai a responsabilidade de que nossos médicos não podem continuar fornecendo sua contribuição solidária nesse país”. Em outras palavras, a intenção é culpar Bolsonaro por uma decisão que só pode ser atribuída a Cuba. A ditadura caribenha nem sequer resolveu esperar por alguma ação do governo brasileiro que mitigasse os efeitos da saída dos cubanos, demonstrando que a saúde dos brasileiros está muito longe de ser a preocupação que move os dirigentes em Havana.

Os médicos são reféns da ditadura, e muitos retornarão a Cuba a contragosto por ainda terem família na ilha-prisão

Felizmente, o governo brasileiro reagiu rapidamente, com a publicação, na terça-feira, de um edital para preenchimento de 8.517 vagas em cerca de 3 mil municípios e 34 distritos indígenas. A procura foi intensa, ainda que não o suficiente para preencher todas as vagas: na quarta-feira, segundo o Ministério da Saúde, houve 3,3 mil inscrições antes que o site do Mais Médicos sofresse um ataque e saísse do ar. O prazo para os médicos se cadastrarem termina no próximo domingo, mas não seria má ideia oferecer alguns dias adicionais para que mais profissionais se interessem pelas vagas oferecidas. Uma explicação para a alta procura inicial está no fato de que o médico já pode garantir a seleção para um local de sua preferência – nas versões anteriores, indicava-se três opções e o sistema fazia a distribuição. Ao fim do processo, será preciso avaliar se o novo método foi eficaz para garantir a ida de profissionais aos locais mais distantes e desassistidos.

Resta uma questão que podemos considerar humanitária: o que fazer com os médicos que não desejarem deixar o Brasil. Eles são reféns da ditadura, e muitos retornarão a Cuba a contragosto por ainda terem família na ilha-prisão; outros, no entanto, gostariam de desafiar o regime comunista para continuar aqui; são vários os que já fugiram da vigilância cubana ou que recorreram à Justiça para isso. Em entrevista coletiva, Bolsonaro havia apontado para a possibilidade de concessão de asilo político aos cubanos que quisessem ficar, e já existe um pedido de habeas corpus coletivo protocolado no Supremo Tribunal Federal para lhes garantir esse direito. Como a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) afirma que a intenção é retirar todos os cubanos do país até 12 de dezembro, essa decisão não pode esperar; independentemente da via judicial, o governo Temer também poderia se antecipar e deixar clara a intenção de oferecer asilo. Aqueles que conseguirem a liberdade poderão até mesmo se beneficiar de uma futura mudança nas regras do Revalida, em discussão entre os ministérios da Saúde e da Educação.

A resposta brasileira à tentativa cubana de desestabilizar o serviço de saúde brasileiro foi rápida, e era o que poderia ser feito emergencialmente diante do impacto da saída súbita de 8,5 mil profissionais. Resta saber se o lançamento do editorial será suficiente para compensar a saída dos médicos dos locais mais afastados, e o que o Brasil será capaz de fazer em nome da liberdade dos cubanos que resolverem não mais se curvar aos ditadores que comandam o país. Já ficou mais que evidente que Raúl Castro e Miguel Diaz-Canel enxergam esses profissionais como mero produto de exportação, pois o bem-estar da população atendida é algo que pouco interessa se os governos estrangeiros já não abastecerem os cofres de Havana.

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