Mais uma vez, o fim do mês traz dados positivos – tanto do Ministério do Trabalho quanto do IBGE – sobre o mercado de trabalho brasileiro. Os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged) repetiram a escrita de todo o ano de 2021, registrando saldo positivo de 324 mil novos postos de trabalho com carteira assinada em novembro. E a Pnad Contínua mostrou nova redução no desemprego, a sexta seguida: o trimestre móvel encerrado em outubro teve taxa de 12,1%, queda de meio ponto porcentual na comparação com o período de julho a setembro, superando as expectativas de mercado. Pela primeira vez no ano, o contingente de desempregados ficou abaixo dos 13 milhões de brasileiros, fechando outubro em 12,906 milhões.
Se o ritmo da queda recente se mantiver, pelas contas do IBGE, o desemprego no trimestre móvel terminado em novembro de 2021 – cujos números só virão no fim de janeiro – será menor que o do último período sem pandemia (11,8% no trimestre de dezembro de 2019 a fevereiro de 2020). Já pelos números do Novo Caged, que considera apenas o mercado de trabalho formal, o Brasil já teria recuperado todo o estrago causado pelas restrições à atividade econômica decretadas por estados e municípios para conter o coronavírus: a perda de 191,5 mil vagas em 2020 foi largamente compensada pelos 2,9 milhões de postos criados entre janeiro e novembro deste ano.
Se numericamente o país caminha para os mesmos níveis de emprego pré-pandemia, os números mostram que há outros desafios a vencer. O principal deles está na renda do trabalhador
Os resultados finais do ano, no entanto, ainda dependem de dezembro, mês que tradicionalmente tem mais demissões que contratações. Além disso, o Caged está sujeito a atualizações de números, especialmente de desligamentos, pois constatou-se que há empresas que fecham e não informam seus dados ao governo federal imediatamente. Foi esse tipo de situação que motivou as duas revisões feitas no início e no fim de novembro, e que colocaram o Caged de 2020 no campo negativo: o dado inicial, de janeiro de 2021, era positivo, de 142 mil postos no ano; na primeira revisão, o número foi cortado pela metade; na segunda, passou para a perda de 191,5 mil vagas no primeiro ano da pandemia.
Se numericamente o país caminha para os mesmos níveis de emprego pré-pandemia, os números mostram que há outros desafios a vencer. O principal deles está na renda do trabalhador. Segundo o Novo Caged, o salário médio de admissão em novembro foi de R$ 1.778,84, o menor valor do ano. O IBGE, que mede o rendimento médio de todos os trabalhadores, não apenas os recém-contratados, também vem registrando queda contínua no indicador, chegando a R$ 2.449, o pior número da série histórica iniciada em 2012 – a título de comparação, o rendimento médio chegou a R$ 2.799 no trimestre móvel de maio a julho de 2020, quando a pandemia estava fazendo seus maiores estragos. O IBGE atribui essa redução a dois fatores: a inflação, que engole o poder aquisitivo do trabalhador, e o fato de o país estar criando vagas de “baixa qualidade”, que remuneram menos.
O iminente retorno a níveis de emprego pré-pandemia não significa que o país pode relaxar nos esforços para continuar gerando postos de trabalho: uma taxa de 12% ou 12 milhões de pessoas à procura de emprego continuam a ser um número incrivelmente alto e uma chaga socioeconômica aberta no tecido social brasileiro. Executivo e Legislativo não podem perder de vista em 2022 as medidas que incentivem a criação e manutenção de postos de trabalho – se ao menos parte desses novos postos consistir em vagas de mais qualidade, com remuneração mais alta, ainda melhor. Há setores em que há muita demanda represada, aguardando apenas por um desengessamento regulatório para que venham milhões de reais em investimentos e consequente geração de empregos. O saneamento e as ferrovias são a prova disso; seus marcos regulatórios são um exemplo positivo de política com o potencial de gerar empregos, e não apenas no curto prazo.
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