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A inflação é um monstro que nenhuma estratégia consegue matar definitivamente. No máximo ela fica controlada, adormecendo à espera de que o país cometa qualquer erro de política econômica, para, então, retornar e provocar toda a série de estragos sociais que são próprios da sua lógica. A elevação generalizada e contínua dos preços, que é como a inflação pode ser definida, é uma doença que corrói o poder de compra dos salários, desorganiza o sistema de preços, desestimula os investimentos e afugenta os empreendedores. Como consequência, o país sofre redução da produção, aumento do desemprego e piora das condições de vida da população.

Entre os grandes consensos mundiais está o de que a inflação é um mal terrível e deve ser combatida sem trégua. Atualmente, mesmo os economistas e os políticos que diziam não ser aceitável frear o crescimento para reduzir a inflação concordam que é um flagelo social e é preciso dar prioridade ao seu combate. Quando, há alguns anos, o Brasil começou a experimentar exagerada expansão do consumo e os preços internacionais do petróleo dispararam, o presidente Lula fez um discurso no qual afirmou que "a inflação é doença desgraçada" e, em seguida, alertou que o crescimento descontrolado dos gastos dos consumidores poderia trazer a inflação de volta.

Desde a implantação do Plano Real, em julho de 1994, o Brasil ingressou no clube dos países que têm moeda estável, inflação baixa e, portanto, poderia passar a sonhar com o crescimento econômico e o desenvolvimento social. Os vinte anos de inflação crônica antes do Plano Real serviram para provar à sociedade brasileira que não existe progresso sustentável em uma economia submetida ao processo inflacionário, coisa que o mundo adiantado já sabia. A estabilidade da moeda foi incorporada à vida do país e tornou-se um dos valores maiores da sociedade brasileira, mas, infelizmente, a inflação nunca morre por completo e pode reaparecer a qualquer momento quando suas causas voltam a atacar. E as causas estão atacando agora no Brasil. Nada parecido com a inflação dos anos 1980, quando os preços chegaram a subir, em alguns momentos, até 84% em apenas um mês. Entretanto, o fato de os preços já terem acumulado alta de 5,25% em 2010, contra uma inflação total de 4,31% em 2009, é um sinal de perigo e acendeu uma luz vermelha no painel de controle governamental.

A meta de inflação para 2010 era de 4,5% e, embora o índice de 5,25% possa não parecer um grande problema, alguns aspectos desse cenário são altamente preocupantes. O primeiro é que uma das principais razões da elevação de preços continua presente e vai desafiar o governo Dilma Rousseff logo no início do seu mandato. Trata-se do estouro nos gastos públicos. O governo gastou demais em 2010 e, com isso, elevou o déficit público nominal, pressionou a oferta, elevou o endividamento público e é uma causa forte na geração de inflação. Outro aspecto relevante é o au­­­mento na demanda causado pela expansão no consumo das pessoas, sobretudo o consumo feito com endividamento. A soma da demanda do governo com a demanda das pessoas e a das empresas atingiu um nível superior à capacidade de produção da economia brasileira, constituindo-se no principal conjunto de pressão sobre oferta e elevação dos preços.

As medidas anunciadas pelo Banco Central, neste fim de ano, destinadas a reduzir o volume de moeda e crédito em circulação, visam a reduzir o consumo das pessoas feito a crédito e foi um início de luta contra a inflação. Os efeitos, contudo, demoram a aparecer e tudo leva a crer que virão novas medidas duras nesse campo. Como estratégia para reduzir a demanda do governo, o ministro Guido Mantega, reconduzido ao cargo pela presidente eleita, anunciou quatro medidas: redução de gastos de custeio do governo, redução dos recursos liberados para obras do PAC (com isso, o ritmo de construção das obras do PAC deverá diminuir), freada na concessão de aumentos salariais e cortes em alguns gastos sociais. Adicionalmente, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, afirmou que o aumento do salário mínimo poderá ter de ficar no patamar mínimo anunciado pelo governo, que é bem inferior ao que demandas os sindicatos. O governo quer evitar pressões sobre os gastos das prefeituras da Previdência Social, os quais têm vinculação direta com o salário mínimo nacional.

Em outro flanco de combate à inflação está a política de juros. Na última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), a taxa Selic ficou mantida em 10,75% ao ano. Quando essa taxa é elevada, ela provoca aumento nas taxas de juros cobradas das empresas e dos consumidores e contribui para reduzir a demanda agregada, o que desacelera o ritmo de elevação dos preços. Mas o Copom optou por não aumentar a taxa de juros. Não fosse dezembro o último mês do mandato do presidente Lula, talvez o Banco Central tivesse elevado a taxa Selic como mais uma arma para conter o crescimento da inflação, ainda que a elevação dos preços possa não ter saído completamente do controle.

O fato é que a inflação mostrou sua cara e, se tudo continuasse como antes, a situação poderia piorar muito em 2011. A presidente eleita, Dilma Rousseff, sabendo dos efeitos maléficos da inflação, anunciou que não vai brincar com esse monstro, pois seus males são grandes conhecidos e capazes de destruir a popularidade de qualquer governante.

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