O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2011 deve ficar na casa dos US$ 2,1 trilhões. Para que o país possa crescer 5% ao ano de forma consistente, o volume de investimentos anuais teria de ser 25% do PIB, ou seja, perto de US$ 525 bilhões. Esse total de investimentos teria de ser distribuído adequadamente entre obras de infraestrutura física (energia, transportes, portos, aeroportos, armazenagem etc.), de um lado, e construção de novas empresas, máquinas e equipamentos, de outro. Para conseguir crescer não basta expandir o parque produtivo se a infraestrutura continuar defasada, insuficiente, envelhecida e incapaz de suportar o crescimento da economia.
Os problemas começam quando se constata que os investimentos do setor público, incluindo os municípios, os estados e a União, não superam os US$ 55 bilhões anuais. Como a infraestrutura brasileira é basicamente estatal, a incapacidade do governo em investir torna-se um sério entrave ao crescimento. E o governo não tem a opção de aumentar os impostos a fim de fazer caixa para bancar gastos em obras públicas, pois a carga tributária chegou ao limite suportável, em torno de 38% do PIB. A combinação de alta carga tributária e investimentos baixos é problemática e remete a uma só solução: é preciso atrair capitais privados nacionais e internacionais para investir na infraestrutura brasileira.
A primeira saída para essa situação está na atração de capitais privados para fazer parceria com o governo, as tais "PPP" (parcerias público-privadas). Porém, há sérios obstáculos para a concretização dessas parcerias, sendo o principal a demora em aprovar uma legislação clara, estável e capaz de estimular os investidores privados. Outro obstáculo está no fato de o governo ser sempre um sócio complicado, imprevisível e confuso. O passado recente mostrou exemplos em que os novos governadores se dispuseram a patrocinar verdadeira agressão aos contratos entre os estados e empresas privadas. Aqui mesmo no Paraná, com ou sem razão, o governo do estado hostilizou parceiros privados da Sanepar e de outras companhias.
Com capacidade financeira para investir em níveis tão baixos, o papel mais importante do governo passa a ser o estabelecimento de um ambiente institucional favorável à criação de empresas e de estímulo aos investimentos privados em obras de infraestrutura. Esse ambiente deve contemplar o respeito ao Estado de Direito (governo das leis e não dos homens); garantia do direito de propriedade; a proteção aos contratos juridicamente válidos; a liberdade econômica; regras claras e estáveis quanto aos setores de energia, transportes portos, aeroportos, armazenagem, telecomunicações e outros.
Ainda que tenha avançado nos últimos anos, o Brasil está devendo melhorias legais em termos das relações trabalho/capital, controle da inflação, boa gestão das contas públicas e eficiência da Justiça. O espírito empreendedor da população e a disposição dos investidores internacionais são influenciados por aspectos políticos, econômicos e psicológicos. Estabilidade política, economia sólida e um corpo de leis a favor das liberdades e direitos individuais são elementos que ditam o ritmo dos investimentos privados. Uma coisa é certa: o motor do crescimento brasileiro daqui em diante é o setor privado, a quem cabe fazer o PIB crescer, ficando o governo com o papel de regular o sistema e promover a distribuição de renda, para o que é necessário que a taxa de crescimento econômico seja superior ao aumento populacional.
A discussão ideológica que opõe o Estado ao setor privado não cabe mais no mundo moderno, pois a questão é, sobretudo, pragmática. O país precisa investir 25% do PIB, e os investimentos em infraestrutura física devem ocorrer a taxas superiores aos demais setores, como condição necessária para que a economia, com um todo, cresça 5% ou mais ao ano. Recusar investimentos privados nacionais ou estrangeiros em obras de setores que estão nas mãos do Estado, por questões ideológicas, é boicotar o crescimento econômico e o desenvolvimento social.
O governo vem demonstrando uma relação ambígua com o investidor privado, ora emitindo sinais de que os capitais privados são bem-vindos nos projetos de infraestrutura, ora dificultando o estabelecimento de parcerias público-privadas, quando não atrasando a legislação reguladora dos contratos de parceria. O drama é que os políticos brasileiros parecem não valorizar o efeito que o tempo tem na solução de problemas. Uma solução que chega com atraso ou tarde demais faz que sua contribuição para corrigir distorções torne-se extremamente reduzida. No setor privado sabe-se que atrasos e demoras significam custos e podem ser a diferença entre lucros e prejuízos. No governo, infelizmente, o povo paga a conta da ineficiência.