Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Editorial

O novo pólo do Sul

A presença hoje, na posse do novo presidente da Bolívia, de vários líderes continentais, deverá impulsionar o objetivo dos dirigentes de países integrados ao Mercosul – entre eles Brasil, Argentina e Venezuela – na construção de um novo pólo de poder na América do Sul; para que "a região deixe de ser a parte traseira do mundo", segundo expressou o presidente argentino Kirchner durante pronunciamento no Congresso brasileiro, na última quarta-feira.

Naquele dia, ao cumprir sua primeira "visita de Estado" (jargão diplomático para simbolizar o tratamento "vip" deferido a um visitante preferencial), Néstor Kirchner fez um discurso de profundidade sobre o papel que concebe para o bloco de nações sul-americanas reunidas no Mercosul. Indo além das saudações protolocares formuladas pelo anfitrião brasileiro, Kirchner referiu-se à nova ordem mundial que vai se desenhando sob a atual onda de globalização. Nela, os competidores possuem a escala de países e comunidades como os Estados Unidos, União Européia, Rússia, China e Índia; uns com trilhões de dólares de produto bruto, outros com poder de dissuasão nuclear, outros ainda, com população superior a um bilhão de habitantes.

Os sul-americanos só jogarão em igualdade de condições com esses gigantes quando se unirem num bloco geopolítico cuja perspectiva vai além do aspecto econômico inicial do Mercosul. É nessa linha que deve ser encarada a integração regional, de modo a permitir uma atuação conjunta nos foros internacionais (Organização Mundial de Comércio, Nações Unidas), mas, sobretudo, frente a outros blocos e megaestados. O objetivo geopolítico foi reforçado no meio da semana, quando o presidente Chávez da Venezuela se juntou aos dois parceiros do Sul, no encontro de Brasília.

Às iniciativas de base econômica (construção de um gasoduto continental de 10 mil quilômetros, criação de um banco regional com reservas em divisas dos países membros), ele propôs uma dimensão política: a coordenação do sistema de defesa da América do Sul, ampliando a autonomia continental nessa área sensível. No mesmo plano o Brasil apóia a criação do Parlamento do Mercosul – espaço regional onde se expressariam os segmentos sociais hoje ausentes do processo de integração.

Mas antes de avançar por esse caminho ambicioso o Mercosul precisa superar pendências que se acumularam: correção de assimetrias entre os países membros, o que envolve a aceitação de salvaguardas temporárias para proteção de ramos industriais em desvantagem, integração de cadeias produtivas visando ampliar a complementaridade das economias nacionais e, principalmente, apoio compensatório aos países menores. Estes, Paraguai e Uruguai, reclamam de ônus sem os bônus a colher nestes anos de associação.

Se o discurso de apoio à Bolívia tiver substância, o mesmo processo deverá se estender ao vizinho andino, numa dinâmica que alcançaria o Chile, resultando em novo pólo de poder no hemisfério sul, seguro e responsável perante a comunidade de nações.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.