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Desde o início da invasão do território ucraniano pelo exército russo, em fevereiro de 2022, insistimos na necessidade de apoiar a Ucrânia e sua população contra as agressões de Vladimir Putin. Passados quase dois anos, tal necessidade ainda é evidente. É graças ao auxílio das nações ocidentais, em especial as europeias e os Estados Unidos, que a população ucraniana mantém a resistência contra os invasores. São as armas e munições enviadas por aliados que evitaram o avanço ainda maior dos russos e a queda definitiva da Ucrânia em 2023. E será a ajuda estrangeira que poderá manter a resistência ucraniana em 2024.
Ao que tudo indica, a guerra deverá ser longa – mais ainda do que já se previa, o que vai certamente demandar maior volume de recursos bélicos e financeiros no próximo ano. Mas por enquanto esse dinheiro está travado. Na Europa, a Hungria vetou um pacote de cerca de 50 bilhões de euros da União Europeia para a Ucrânia em 2024. Nos EUA, o Congresso ainda não aprovou a ajuda de US$ 60 bilhões a Kyiv no próximo ano. Sem esses aportes, será praticamente impossível aos ucranianos resistir a Putin.
A falta de armas e munições entre a resistência ucraniana já começa a ser sentida. Dias atrás, o general Oleksandr Tarnavskii, um dos mais respeitados oficiais ucranianos, disse em entrevista à agência Reuters que a Ucrânia está tendo de reduzir o ritmo de suas operações por causa da falta de auxílio do Ocidente. É uma afirmação alarmante e que vem em um momento decisivo. Em junho deste ano, graças ao apoio dos aliados, a Ucrânia deu início a um novo movimento para tentar reaver os territórios tomados pelos russos. A contraofensiva obteve sucessos, especialmente ao sul do país, mas acabou avançando em um ritmo mais lento do que o esperado e hoje está praticamente estacionada.
São as armas e munições enviadas por aliados que evitaram o avanço ainda maior dos russos e a queda definitiva da Ucrânia em 2023
É uma pena que o resultado obtido pela contraofensiva não tenha sido o esperado. Um avanço mais significativo e rápido poderia dar um novo alento ao conflito, animando o exército ucraniano, e motivando os aliados a ampliarem o envio de recursos bélicos ao país. Mas isso não pode ser visto como uma derrota; embora não tenham retomado as regiões ocupadas pelos russos, os ucranianos vêm conseguindo evitar o avanço dos invasores. É preciso manter a esperança e todos os esforços para que os ucranianos possam retomar a integridade de seu território, e isso só é possível com o compromisso das nações ocidentais com a defesa e apoio à Ucrânia.
Por mais brio que os ucranianos possuam – uma característica, sem dúvida, digna de nota e louvor –, sua força bélica é ínfima quando comparada com o exército russo. É por isso que a aliança das nações europeias e dos Estados Unidos se faz tão importante. Em sua sanha expansionista, Putin conta com o arrefecimento do apoio do Ocidente à Ucrânia para tomar de vez o país vizinho, ou ao menos para levar mais ocidentais a defender um acordo de “terras por paz” que legitimaria o que já chamamos de “paz dos valentões” e que interessa não só aos russos, mas a outros aliados de Moscou mundo afora, da China ansiosa por tomar Taiwan à Venezuela sedenta pelo Essequibo guianense. Por isso, é preciso frear Putin para preservar a integridade de inúmeras outras nações e deixar claro que agressões descabidas e delírios expansionistas não podem ser tolerados no mundo atual.
O Ocidente pode ter voltado os olhos para o terrorismo do Hamas cometido contra Israel – o país tem recebido ajuda militar de aliados para combater os terroristas na Faixa de Gaza –, mas não pode se esquecer da Ucrânia e deixar a resistência ucraniana sem armas nem munição – o que pode ocorrer se não forem aprovados mais recursos estrangeiros ao país. Há coisas pelas quais vale a pena seguir lutando. A defesa da liberdade e integridade do território ucraniano é um desses motivos. Que, com a ajuda do Ocidente e a perseverança de seu povo, a Ucrânia possa retomar sua integridade territorial e soberania.